Membros do PT no Ceará divulgaram, ontem (31), uma carta aberta ao governador Camilo Santana (PT) cobrando-o pelo recente apoio ao nome do senador Tasso Jereissati (PSDB) para assumir a presidência caso se confirme a queda do presidente Michel Temer (PMDB). A legenda posicionou-se nacionalmente pelo boicote à eleição indireta através do Congresso Nacional e endossa o coro por “Diretas Já”.
“Desconsiderar, pelas páginas dos jornais, a posição partidária em questões centrais, desqualificando a candidatura de Lula, defendendo as eleições indiretas sob pretexto de respeitar a Constituição e, em caso de ocorrerem, admitindo o nome do Senador Tasso Jereissatti, um dos principais mentores do golpe que destituiu a presidente Dilma corrompendo essa mesma Constituição, afirmamos: isso não é construir o PT!”, diz a carta.
Na carta, os petistas ainda mencionaram a possibilidade do governador assumir “outro caminho partidário”, em referência à articulação de Camilo para deixar o PT e se filiar ao PSB, levando ainda os deputados federal Odorico Monteiro e Macedão.
“O Governador tem inclusive o direito de manifestar sua discordância e optar por outro caminho partidário, o que é digno quando as divergências são insanáveis. Mas, como filiado ao partido, não poderá mais continuar desconhecendo as resoluções, a cultura e a história do PT, que exigem respeito.”.
Apesar do tom de ultimato, a carta conta com o apoio de poucos nomes fortes dentro do PT. Entre as assinaturas, destacam-se os nomes da deputada federal e ex-prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins, o vereador de Fortaleza Guilherme Sampaio (ex-Secretário de Cultura de Camilo) e o advogado Deodato Ramalho, derrotado na disputa pela presidência do PT Fortaleza, assumida pelo vereador Acrísio Sena.
Confira a carta
Carta aberta ao governador Camilo Santana e à militância do Partido dos Trabalhadores
Fortaleza, 31 de maio de 2017
As recentes declarações públicas do governador Camilo Santana a respeito da admissão de eleições indiretas, e, nessa hipótese, de sua simpatia com relação ao nome do senador Tasso Jereissati, veiculadas na imprensa nos últimos dias, impõem ao Partido dos Trabalhadores um posicionamento público dirigido à sua militância.
Em primeiro lugar, porque divergem, mais uma vez, frontalmente, das resoluções partidárias, que, em sintonia com nossa base social e com a opinião pública, posicionaram-se oficial e claramente, conclamando-nos e à sociedade a uma grande mobilização pelas Diretas Já!, tal como se decidiu nos recentes Congressos Estaduais do PT e em reunião do Diretório Nacional.
A presente manifestação se impõe por já não se tratar da primeira oportunidade em que as posições pessoais do governador divergem pública e frontalmente das do partido, ou, pelo menos, da opinião majoritária de sua militância, em questões centrais da política.
Camilo é uma importante liderança no cenário político contemporâneo. É um servidor público, um militante, formado nas tradições de resistência democrática no país. É o primeiro filiado a um partido de esquerda, o PT, a ser eleito para o cargo máximo do Executivo estadual. Sua gestão, mesmo em meio à crise, tem alcançado equilíbrio fiscal, sem o atraso da folha de servidores, e a viabilização de investimentos estruturantes para os anos vindouros.
Este reconhecimento fundamenta e justifica nosso apoio e solidariedade ao seu governo, que não é perfeito, mas origina-se e busca guiar-se por um rumo responsável e progressista. Nada disso, no entanto, pode justificar a forma como tem se dado o seu relacionamento com o Partido dos Trabalhadores.
O exercício de funções públicas de largo alcance impõe maturidade e temperança para compreender os limites de governos de coalizão, do funcionamento da máquina pública, e, sobretudo, da própria cultura política. Esta Carta Aberta não se move, portanto, pela eventual incompreensão desses limites. Move-nos, porém, a certeza de que os acordos políticos e eleitorais devem estar a serviço da implementação de um programa democrático e popular. Numa circunstância de golpe como a que vivemos, uma coalizão governamental encabeçada por nós deve ser um instrumento da resistência popular. Assim, a audiência com que conta o governador do PT deve se tornar um instrumento importante na luta pelas eleições diretas e pela retirada das reformas que destroem direitos.
O Governador Camilo tem todo o direito de divergir de nossas decisões ou da linha política de nossas teses, como no que diz respeito à candidatura de Lula, à campanha pelas diretas ou ainda a sua posição diante da recente campanha de Luizianne para Prefeita de Fortaleza, ou a sua decisão de nomear, como um de seus principais secretários, quadro do PSDB com notória orientação liberal. Entre nós a discussão é livre e pública, mas como militante do PT, o Governador não tem prerrogativa de aplicar uma conduta oposta à do partido, ainda mais quando sequer submeteu suas posições e teses à discussão nas instâncias partidárias. Tem razão o presidente estadual do PT, De Assis Diniz ao afirmar: “a posição do PT vale para todos os filiados e é Diretas Já”.
O Governador tem inclusive o direito de manifestar sua discordância e optar por outro caminho partidário, o que é digno quando as divergências são insanáveis. Mas, como filiado ao partido, não poderá mais continuar desconhecendo as resoluções, a cultura e a história do PT, que exigem respeito.
O PT não é uma legenda qualquer. Esta sigla expressa uma construção política histórica, única, de massas e gerações, que se tornou instrumento político imprescindível à luta do povo brasileiro por igualdade, justiça e cidadania. Trata-se de uma construção estratégica, bem maior, mais longeva e mais importante que governos de quatro anos. E é exatamente por isso que está, agora, sob intermitente e feroz ataque das elites conservadoras: por tudo que representa de revolucionário na história política do país.
Vivemos um tempo que não suporta dubiedades, especialmente aquelas que se relacionam aos dilemas históricos da evolução política e social do país, ou seja, aqueles expressos pelos conflitos de classe, nitidamente revelados pelo golpe contra o governo Dilma e pela resistência popular que este desencadeou.
Nesse quadro, e, na condição de Governador de nosso estado, desconsiderar, pelas páginas dos jornais, a posição partidária em questões centrais, desqualificando a candidatura de Lula, defendendo as eleições indiretas sob pretexto de respeitar a Constituição e, em caso de ocorrerem, admitindo o nome do Senador Tasso Jereissatti, um dos principais mentores do golpe que destituiu a presidente Dilma corrompendo essa mesma Constituição, afirmamos: isso não é construir o PT!
O Governador tem o direito de decidir o seu rumo, mas ao permanecer no Partido dos Trabalhadores, precisa, como qualquer militante, se comprometer com as decisões partidárias. Por isso, o Diretório Estadual e sua Comissão Executiva têm a responsabilidade de convocar o Governador para fazer esta discussão no quadro regular do partido. É obrigação nossa e de nossa direção defender o PT e suas resoluções, estancando a afronta exposta pelas declarações do Governador que atordoam nossos militantes que estão nas ruas lutando contra o governo do golpe. Decida-se Governador!
Primeiras assinaturas:
Adriano Torquato – Assessor sindical, Afonso Tiago N. de Sousa, Aila Marques – Executiva PT Fortaleza, Alessandra Bizarria – Geógrafa, Alexandrina Mota – Mov. Mulheres, Alrenice S. Rodrigues – Assessora parlamentar, Ana Lúcia Barros – Sec. de Mulheres do PT-CE, Ana Maria Fontenele – Professora, Ana Maria Ferreira – Sindicalista, Antônio José Andrade – Executiva PT Fortaleza, Antônio Marcos Pinheiro – Presid. Sind. Servidores Tabuleiro do Norte, Aquiles Melo – Cientista político, Benedito Cunha – DM PT Fortaleza, Damião N. Maia – Sindicalista, Deodato Ramalho – Advogado, Elsa Pena Sales – Professora, Emília M. Lima da Silva – Professora, Fca. Cláudia de Almeida – Assessora parlamentar, Guilherme Sampaio – Vereador PT Fortaleza, Ingride Vieira – JPT, Ítalo Valner Parente, Jasna Tayná Carvalho, Jacqueline F. Cavalcante – Professora, José Alberto S. Moreira, José de Assis – Diretor Condsef / PT Maracanaú, José Eudes Baima – DM PT Fortaleza, José Roberto B. Araújo – Professor, Klístenes Braga – Artista, Luis Carlos Rey – Médico, Luizianne Lins – Deputada federal, Ma. Aparecida Carvalho – Professora, Ma. Lara Paz – Professora, Ma. Ozirene M. Vidal – DM PT Limoeiro do Norte, Mariana Lacerda – Diretora da UNE, Mario Mamede – Médico, Mateus Queiroz – JPT, Martônio B. Mont’Alverne – Advogado e professor, Max Swell Ribeiro – Sec. Meio Ambiente PT Fortaleza, Mitchelle B. Meira, Rafael Tomyama – Diretório PT-CE, Raimunda A. da Costa, Roberto Luque de Souza – Exec. CUT-CE, Rômulo Jerri C. de Andrade – PT Russas, Ronaldo Simões – Professor e DM PT Fortaleza, Silvia Guimarães – Turismóloga, Soraia Ribeiro – Sindicalista, Virgínia P. Braga, Victor Vidal – Assessor parlamentar, Wládia Fernandes – Exec. PT Fortaleza, Zélia Gomes – Executiva PT-CE
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