segunda-feira, 6 de março de 2017

Participação da mulher na política ainda é desafio


Pelo menos uma vez por ano as mulheres, sobretudo aquelas que possuem mandato eletivo, ocupam lugar na tribuna do Legislativo para cobrar uma maior participação feminina. Via de regra, elas recebem o apoio dos líderes políticos. Mas, durante o resto do ano, incluindo períodos eleitorais, as ações no sentido de possibilitar o avanço das mulheres na política não são postas em prática. O Dia Internacional da Mulher, comemorado na quarta-feira (08), reacende o debate sobre o desafio de garantir a participação feminina nos espaços públicos.
A representatividade de mulheres no parlamento brasileiro demonstra essa lógica. Na Câmara dos Deputados, por exemplo, só temos 10% de mulheres parlamentares. O Senado tem 15%. No ranking geral mundial, o Brasil ocupa a posição 155 em representatividade parlamentar.
Para a deputada federal Luizianne Lins (PT), também ex-prefeita de Fortaleza, houve avanços, mas, hoje, a sensação é de retrocesso. Em entrevista ao jornal O Estado (veja a entrevista completa abaixo), a petista elencou alguns aspectos. “Quanto ao espaço das mulheres, isso mudou sim. Mas diante do contexto que vemos hoje, no Brasil (‘perdemos’ uma presidenta mulher, eleita pelo voto popular, retirada da presidência por um golpe, misógino, inclusive, e temos hoje um presidente golpista no poder que está propondo uma Reforma da Previdência que também tem caráter misógino, que prejudica sobremaneira as mulheres – ao, por exemplo, fixar a idade mínima de aposentadoria de 65 anos para ambos os sexos) e no Mundo (vide eleição de Trump nos EUA, a aprovação na Rússia de uma legislação que deixa as mulheres mais vulneráveis ainda), com retrocessos, com os crimes terríveis que seguem acontecendo, a sensação é de que a luta é incessante, que não deve parar nunca, mesmo que avancemos”, frisou a deputada.

Luizianne também acrescenta que “as raízes da cultura paternalista são históricas e arraigadas fortemente”. “Vi isso de forma prática nos casos que acompanhei na Comissão Permanente Mista de Combate à Violência contra a Mulher, da qual fui relatora. Os casos de feminicídio ou as tentativas, que deixam seqüelas físicas e psíquicas, são horríveis, brutais, animalescos. Não podemos é deixar sob o tapete. O estímulo à denúncia, o empoderamento das mulheres isso é o essencial nessa busca por mais dignidade e vida plena. Porque é ‘apenas’ uma vida livre e plena que buscamos”, disse.
Ex-prefeita de Fortaleza, Luizianne também diz que se orgulha de ter enfrentado os preconceitos durante a corrida eleitoral pela chefia do Palácio do Bispo. “Nunca tive padrinho político e disso me orgulho. E isso independe de ser homem ou mulher. Mas, claro, no contexto que temos, uma mulher ser eleita prefeita de Fortaleza sem ser filha da elite e sem padrinhos políticos muito me orgulha”, pontuou.

Governadora
O Ceará possui a primeira mulher eleita para o cargo de vice-governadora do Ceará. Em 2015, pela primeira vez, Izolda Cela assumiu o Poder Executivo no Estado. A vice governadora geriu o Estado por cerca de dez dias devido ausência do governador Camilo Santana, que viajou para tratar de “assuntos pessoais”.

Ampliação  dos espaços
Sem o devido apoio, a proporção de candidatas efetivamente eleitas é baixa. “Na verdade, do ponto de vista da ampliação das mulheres no espaço político, não houve avanço”, frisou a vereadora Larissa Gaspar, citando como exemplo a atual composição da Câmara Municipal, que possui apenas seis representantes femininas, o que segundo ela também se reflete em outros espaços políticos.
“Conquistamos muitos espaços devido a nossa luta. Mas, o assunto ainda requer bastante discussão. As mulheres precisam participar das discussões, não só na política, mas em outros espaços também. A ideia é que sejamos protagonistas e não sejamos tratadas como bibelô de mesa, mas sim que possamos tomar decisões”, disse.

No entanto, ela ressaltou que, em relação ao trabalho, as mulheres têm conquistado espaços em áreas então consideradas masculinas. Mas, “é preciso mais”. Para a parlamentar, as mulheres precisam exigir a criação de políticas transversais no mais alto nível da gestão pública. “Instituições fortes, que promovam o protagonismo das mulheres, são indispensáveis para garantir avanços e impedir retrocessos”, avalia, convidando as mulheres a participar das lutas por seus direitos.

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