BRASÍLIA - Com a urgente necessidade de conseguir um palanque de peso
no Nordeste, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), pré-candidato à
Presidência, pressiona o empresário e ex-governador do Ceará Tasso
Jereissati a retornar ao mundo político. Apesar de sentir falta da vida
pública, o tucano cearense sinaliza não estar disposto a entrar na
disputa caso suas chances de vitória não sejam muito altas - e disso
dependem os movimentos dos irmãos Cid e Ciro Gomes, do PROS. Tasso
resiste, pois não suportaria outra derrota como a de 2010, quando não
foi reeleito senador.
Aécio sabe que não conseguirá vencer a presidente Dilma Rousseff (PT)
no Nordeste, mas tem como estratégia não deixar a petista abrir larga
vantagem por lá. O Ceará é fundamental na matemática tucana: é o
terceiro maior colégio eleitoral da região, atrás da Bahia, onde o PT é
governo, e de Pernambuco, do governador e pré-candidato do PSB Eduardo
Campos; é o sétimo do País em número de eleitores; e já foi um reduto do
PSDB no passado. Tasso comandou o Ceará por três mandatos - o primeiro,
nos anos 80, ainda pelo PMDB e os outros dois no PSDB - e ajudou a
eleger o primeiro governador tucano no País - por ironia, o hoje aliado
de Dilma e do PT Ciro Gomes.
Em 2010, decepcionado após perder a vaga no Senado para Eunício
Oliveira (PMDB) e José Pimentel (PT), Tasso sumiu do cenário político e
mergulhou em seus negócios. Há quatro anos ele representava a Coca-Cola
em quatro Estados. Desde então, triplicou esse número e distribui o
refrigerante em 12 unidades federativas. Inaugurou e ampliou mais três
unidades do Shopping Iguatemi e seu grupo criou uma nova cadeia de
centros comerciais chamada Bosque dos Ipês.
Apesar de apoiá-lo em qualquer que seja sua decisão, a família de
Tasso, que já teve problemas de coração, não gostaria de vê-lo novamente
envolvido com política. O motivo é que, apesar do dia a dia corrido de
homem de negócios, hoje ele ainda consegue dedicar-se aos seus como
nunca foi possível nos tempos de vida pública. Recentemente, tirou uma
semana para levar os netos para a Disney, por exemplo. Foram sete dias
andando nos brinquedos do parque como se fosse criança, relata uma
pessoa próxima a ele.
Cenários. Se Tasso topar voltar à política, a
aliança ideal vislumbrada por Aécio Neves seria ter o correligionário
como candidato ao Senado e o peemedebista Eunício Oliveira concorrendo
ao governo. Tasso só não topa a dobradinha caso tenha de enfrentar Cid
ou Ciro Gomes - e a força dos irmãos, detentores da máquina estadual há
oito anos - na disputa pela única vaga de senador em jogo.
Aproveitando a onda de descontentamento do PMDB com o PT e o aparente
projeto hegemônico do PROS no Estado, Aécio tem conversado
sistematicamente com Eunício para formar chapa com os tucanos. Na semana
passada, chegou-se a falar em uma aliança formal. Tasso também sentou
para conversar com o peemedebista.
Entretanto, os principais personagens políticos do Ceará estão à
espera da definição de Cid sobre seu futuro. Eunício prefere a aliança
natural com o PROS, que integra a base aliada de Dilma, e não com o
oposicionista PSDB. Mas Cid não quer indicar um concorrente ao Senado na
chapa de Eunício - o governador quer alguém de seu próprio partido para
suceder-lhe no Executivo cearense.
Em viagem ao Ceará na semana passada, Dilma sinalizou repetidas vezes
que torce para que PROS e PMDB fechem o acordo regional, um modo de
evitar que os peemedebistas debandem para os tucanos no Estado.
Por isso, Eunício tem dito a pessoas próximas que quer tentar todas
as possibilidade de se aliar com um partido da base dilmista. Ele se dá o
prazo até abril para desatar o nó e decidir seu destino. Costuma dizer
que não ficará sozinho por causa dos irmãos Gomes, que têm histórico de
traição política, pois teme ser enrolado até junho, prazo que
inviabilizaria sua aliança com outras legendas. E já se baseia no
exemplo do senador Delcídio Amaral (PT-MS) que, sem acordo regional,
deve acabar se unindo com o PSDB em Mato Grosso do Sul. Caso os
desentendimentos entre PMDB e PROS permaneçam no Ceará, o partido de
Aécio Neves pode enfraquecer um dos palanques de Dilma.
Nenhum comentário:
Postar um comentário