A saída do governador Cid Gomes do Governo do Ceará, como ele admite, até a próxima semana, deverá influenciar não só em decisões na sua própria base aliada, mas também no campo da oposição. Algumas lideranças ouvidas pelo Diário do Nordeste chegaram a dizer que o governador do Estado pouco tem se preocupado com a população e estaria mais interessado em oferecer cargos públicos à sua família.
Para o presidente do Partido da República (PR), ex-governador Lúcio Alcântara, as atitudes de Cid Gomes quanto ao Governo do Estado, pouco vão afetar os trabalhos da oposição. Segundo ele, a sua legenda vai continuar realizando as mesmas movimentações sem qualquer influência da saída de Cid da chefia do Poder Executivo.
No entanto, ele destacou que, caso haja algum partido que passe a ficar insatisfeito com tal decisão, o bloco de oposição ao Governo poderá analisar para avaliar uma possibilidade de inserção deste aos quadros da corrente oposicionista. "O que a gente percebe é que o barco está pequeno demais, porque tem muita gente dentro. Agora ficou difícil para eles", afirmou Alcântara.
Segundo ele, a decisão de Cid "ofende" o povo cearense, pois o governador estaria, na avaliação de Lúcio, abandonando o Estado em um momento de crise na Segurança Pública e de uma seca que se arrasta por, praticamente, todo o Ceará. "Ele desrespeita o povo do Ceará e está abandonando o barco", disse.
"O que a gente percebe é que eles procuram apenas se dar bem, adotam aquilo que é melhor para eles, do ponto de vista pessoal e político. O que o Ceará precisa eles não levam em conta. É lamentável que estejam fazendo essa barganha só pensando nos três", lamentou.
O ex-prefeito de Maracanaú, Roberto Pessoa (PR), disse que a saída de Cid do Governo demonstra que ele "tem amor apenas por sua família, os Ferreira Gomes", e citou, por exemplo, a indicação de Patrícia Saboya, que foi cunhada de Cid, aos quadros do Tribunal de Contas do Estado (TCE), como manobra do governador para acomodar um familiar. Conforme informou, Cid está apenas fazendo "marketing midiático" para renovar a imagem de Ciro Gomes, que estaria desgastada.
Negativamente
Segundo ele, tal decisão de saída de Cid Gomes do Governo irá, sim, influenciar, negativamente, as movimentações da oposição, pois conforme informou, isso inviabilizaria mais ainda uma possível candidatura do ex-senador Tasso Jereissati ao Senado Federal, pois Tasso iria ter que disputar contra o Governo atual. Por outro lado, a atitude do governador, como já foi veiculado pelo Diário do Nordeste, abala a base governista, visto que o PT defende uma vaga no Senado Federal.
"A oposição ainda vai analisar. No dia 5 (de abril) vamos saber mais sobre isso", anuncia a outra liderança do PR cearense. O presidente do PSB no Ceará, Sérgio Novais, partido que até pouco tempo tinha o governador Cid Gomes e todos os seus liderados como filiados, mais comedido em suas palavras, em relação às manifestações de representantes do PR, classifica a saída de Cid do Governo como "um jogo de poder familiar que não interessa ao povo".
Dispersão
Conforme disse, o que pode acontecer em relação à oposição é uma dispersão do campo situacionista, pois os aliados não aceitarão, de acordo com ele, nem uma cabeça de chapa majoritária una, com o PROS no Governo e Senado, e muitos não aceitarão uma possível indicação de um nome petista.
"Muitos partidos que têm compromisso com o PROS não têm com o PT. Eu acho que essa dispersão é indiferente, mas se houver é favorável (para a oposição). A gente deve ter simpatizantes que podem vir para o nosso campo. Até o dia 5 haverá muito jogo de barganha política, de mostrar força. Eles vão definir somente no dia 5, e nós vamos aguardar", afirmou.
Segundo disse, Cid Gomes corre o risco ainda de perder o poder (quase) hegemônico que tem no Ceará, pois, anteriormente, a ideia de uma candidatura peemedebista, que antes era ínfima, passou a ser real. "A candidatura do PMDB passou a ser real e eles vão ter que garantir alguma posição", disse Novais.
Já o vice-presidente do PSDB no Ceará, o deputado federal Raimundo Gomes de Matos, afirmou que o partido dele vai apresentar suas propostas e movimentações, independentemente da decisão de Cid Gomes em deixar ou não o Governo. Segundo ele, praticamente, nada vai mudar, pois todos os partidos, em sua avaliação, que fazem parte da base governista no Ceará "são subservientes" aos mandos da presidente Dilma Rousseff em nível nacional.
"A gente observa que eles relutam em perder seus cargos a quem a presidente Dilma indicar. A população é quem irá julgar se aquele procedimento é o correto. Independente de saída ou não do Cid, o PSDB vai apresentar suas propostas, vai chamar a população para o debate para discutir questões como a da saúde e segurança", ressaltou o deputado tucano.
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