“Não vou demitir ou exonerar simplesmente porque alguém falou de outro. Quando houver provas robustas, pela hipótese da denúncia, daí começo a tomar providências”, disse.
A fala reitera o critério de “linha de corte” anunciado por Temer em entrevista a jornalistas. No início do ano, o peemedebista afirmou que só iria pedir o afastamento temporário de um ministro em caso de denúncia e só iria demiti-lo caso se tornasse réu.
“É preciso indagar a respeito do que A falou de B. Depois, o Ministério Público pede inquérito judicial, como está sendo pedido. Depois é que virá, eventualmente, a denúncia. Se vier, a simples denúncia não significa culpabilidade, mas que há fortíssimos elementos de que aquela delação é correta.”
Sobre o andamento dos processos, o presidente comentou que prevê que as denúncias sejam formalizadas ainda neste ano, a despeito do grande volume de pedidos de inquéritos feitos ao Supremo Tribunal Federal pela Procuradoria-Geral da República.
Citou a petição da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) no Supremo, noticiada pela coluna “Painel”, do jornal Folha de S.Paulo, desta segunda (17). A entidade pede que o tribunal agilize o trâmite dos processos da Lava Jato, convocando juízes auxiliares.
“O Supremo vai agilizar, o MP vai agilizar com essas provocações”, disse Temer.
‘DESAGRADÁVEL’
Temer voltou a negar que tenha cometido irregularidades -como o fez em entrevista à TV Band, no sábado (15)- e disse que o efeito das delações é “desagradável porque se trata de uma mentira”.
Também tentou minimizar o impacto político da divulgação das colaborações da Odebrecht com a Lava Jato.
“Devo dizer que não pode prejudicar a governabilidade. A tendência é dizer que o governo vai parar, mas o governo não pode parar”, afirmou. “Digo que não vamos parar. Ainda ontem fizemos uma reunião, exata e precisamente para que não se altere a governabilidade”, afirmou.
Questionado se estaria participando de um pacto com outros caciques, como Lula (PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB) em prol da sobrevivência política de seus grupos, após o impacto da Lava Jato, o presidente disse que “não tem conversa nessa direção”.
Citou a nota de FHC, que também negou a articulação em rede social no domingo (16).
Comentou que a aproximação com os ex-presidentes se deu quando ele e FHC visitaram Lula em janeiro no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, para prestar solidariedade ao petista em razão da morte da ex-primeira-dama Marisa Letícia.
“Nessa ocasião, ele [Lula] disse: ‘Olha, precisamos conversar sobre reforma política.”
Temer afirmou que, sobre a reforma, “quem sabe” trabalharia com o tucano e o petista, “mas apenas sobre esse tópico”.
“Não participo e jamais fui perguntado se gostaria de fazer [um acordão].”
INVESTIGAÇÃO
O ministro Edson Fachin determinou a abertura de inquérito contra oito ministros do governo Michel Temer (PMDB), 24 senadores e 39 deputados federais. Serão abertas 76 investigações pedidas pela Procuradoria-Geral da República após as delações da Odebrecht.
Entre os citados estão os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), e do Senado, Eunício Oliveira (PMDB). Dois dos principais aliados de Temer, Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secreraria-Geral), também estão na lista, que abrange ainda os senadores Romero Jucá e Renan Calheiros, do PMDB, e Aécio Neves (PSDB).
No total a relação tem 98 nomes e inclui três governadores e um ministro do Tribunal de Contas da União. Algumas suspeitas da Procuradoria são corrupção, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, fraude e cartel. Fachin remeteu 201 outros casos a tribunais de instâncias inferiores envolvendo citados sem foro no Supremo -entre os mencionados estão os ex-presidentes Lula, Dilma Rousseff e Fernando Henrique Cardoso.
Os inquéritos iniciam longo trâmite. Investigarão o teor das delações, que precisarão de provas adicionais para tornar-se efetivas. Ainda há as fases de denúncia e do processo, com ampla defesa, antes do julgamento.
Fonte: Folha Press
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