quinta-feira, 11 de maio de 2017

Temer minimiza impacto na reeleição de deputados


Com dificuldades de conseguir votos suficientes para aprovar a reforma da Previdência, o presidente Michel Temer defendeu, ontem, que a base aliada não se preocupe com o impacto da proposta na disputa eleitoral do próximo ano.
Em café da manhã com a bancada paulista, o peemedebista utilizou exemplo pessoal no esforço de minimizar o receio de deputados governistas de colocarem em risco suas próprias reeleições caso votem pelas mudanças na aposentadoria.
Nas últimas semanas, parlamentares aliados têm reclamado de pressões de suas bases eleitorais contra a proposta. De acordo com pesquisa Datafolha, a iniciativa é rejeitada por 71% da população e chega a 83% entre funcionários públicos.
Segundo relatos de presentes, o presidente lembrou na reunião que foi relator da reforma previdenciária em 1996, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Ele disse que, na época, também havia preocupação na base aliada, mas, em 1998, acabou sendo reeleito com 200 mil votos, quase o triplo do recebido em 1994.
Em seus diários, porém, Fernando Henrique Cardoso, à época presidente da República, afirmou que Temer foi o responsável por mudar o texto do Palácio do Planalto; diz que o peemedebista desfigurou a reforma da Previdência enviada ao Congresso na década de 1990. “A reforma da Previdência foi desfigurada, o Temer cedeu além de todos os limites.”
No primeiro volume dos diários, com lembranças de 1995 e 1996, FHC relata as dificuldades para aprovação da proposta e menciona várias vezes a atuação de Temer.
“Na última hora o Michel Temer mudou coisas muito importantes que havia combinado conosco, tornando a reforma previdenciária muito pouco eficaz para o combate de uma porção de abusos”, escreveu o tucano, sem mencionar quais foram essas alterações.
No período em que FHC fez essas constatações, fim de março de 1996, o relatório de Temer alterando o projeto original foi apresentado e votado em primeiro turno na Câmara.
Pesquisa revela que, nesse período, Temer desistiu de aumentar em cinco anos a proposta de idade mínima para servidores, que ficou, naquela versão do texto, em 55 anos (homem) e 50 anos (mulheres).
O texto que Temer enviou ao Congresso em 2016, já como presidente, prevê idade mínima de 65 anos como regra geral para aposentadoria.
Na mesma semana das declarações de FHC, em 1996, Temer disse, após reunião com deputados, que, para a aposentadoria rural, valeria o tempo que a pessoa declarasse ter trabalhado, mesmo sem vínculo empregatício.
Duas décadas depois, ele mesmo enviaria ao Congresso proposta de alteração na aposentadoria rural. Diante da forte resistência de parlamentares nesse ponto, Temer já admitiu fazer concessões.
O texto da equipe de Michel Temer propõe que essas contribuições ocorram de forma periódica e sugere idade mínima de 65 anos também para o trabalhador rural.
Pressão familiar
No esforço de aprovar a proposta, o presidente também tem afirmado, em conversas reservadas, que chegou na época a receber ligação de um dos seus irmãos, segundo qual ele nunca seria reeleito sendo relator de uma proposta polêmica.
Na reunião, o presidente disse que as pessoas são reconhecidas “quando fazem o trabalho correto” e disse que o humor da população deve mudar a partir do segundo semestre, quando a expectativa do Palácio do Planalto é de que a economia apresente sinais mais claros de recuperação.
Para tentar blindar os parlamentares governistas de pressões externas, o Palácio do Planalto deu início a uma ofensiva midiática em defesa da proposta. Foram produzidas publicidades para televisões e rádios e o presidente intensificará agenda de entrevistas.
Hoje, ele conversará com o apresentador José Luiz Datena, da Bandeirantes. Na próxima semana, a ideia é conceder entrevistas à TV Globo e ao canal de notícias por assinatura “Globo News”.
Nos últimos dias, parlamentares que apoiam a reforma previdenciária têm sido alvo de protestos. O presidente da comissão especial, Carlos Marun (PMDB-MS), foi hostilizado na segunda-feira (8) em um evento na Câmara Municipal de Campo Grande (MS). Além de vaias, ouviu da plateia gritos de “Fora Marun!”.

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