terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Oposição cobra atuação “firme” contra chacinas


Conflitos entre facções rivais no Ceará, que motivaram duas chacinas no intervalo de 72 horas, mobilizaram reações também no meio político. A oposição insiste na tese de intervenção federal no Estado, enquanto aliados do governo ressaltam ações já implementadas para combater a violência crescente.
O deputado Heitor Férrer (PSB) disse que o Ceará está “estarrecido pela violência ocorrida” no bairro das Cajazeiras, onde a “rivalidade entre facções do crime organizado levou ao assassinato de 14 pessoas, muitas das quais não tinham qualquer envolvimento com a criminalidade”.
O parlamentar avalia que as sequências de mortes revelam que ”chegamos ao fundo do poço” e que o governador Camilo Santana “não pode continuar calado diante dessa barbárie”.
Férrer cobra a responsabilidade do governo estadual na proteção ao cidadão e cita a política iniciada ainda no governo Cid Gomes. “O governador [Camilo Santana] mantém o mesmo projeto fracassado, iniciado há 12 anos pelo governador Cid Gomes, que, basicamente, reside na compra de viaturas e concurso para polícia, sem qualquer planejamento, sem investir na inteligência e sem quebrar os mecanismos geradores da violência, que estão lá atrás. O governador entra no seu último ano de governo com um certificado de total fracasso no combate à violência e se descredencia para emitir qualquer promessa aos cearenses. Nós queremos ação, atitude, solução, governador”, ressalta.
Já a deputada Aderlânia Noronha (SD), que também integra o grupo de oposição na Assembleia Legislativa, cobrou, por meio de mensagens e notas, providências urgentes do Governo do Estado contra a criminalidade e, principalmente, para identificação dos autores das mortes registradas no Bairro Cajazeiras, em Fortaleza. A parlamentar disse que a notícia sobre a chacina “deixa a todos nós apavorados e com a sensação de que, cada vez mais, o comando do crime assume o controle de nosso Estado”. Aderlânia criticou, também, as palavras do Secretário de Segurança Pública, André Costa, de que, mesmo com a dimensão a chacina, “não há motivo para pânico”.
Em outro trecho da nota, Aderlânia Noronha afirma que “o aumento descontrolado dos grupos de facções só tem sido possível em razão da omissão das autoridades de segurança e da lacuna que o Estado tem deixado livre para que o mundo do crime possa ocupar e agir sem qualquer receio de ser combatido”. Aderlânia finaliza a nota com uma cobrança: “seguiremos cobrando das autoridades mais respeito e atitude diante de casos tão selvagens de violência contra nossa sociedade”.
Líder da oposição na Assembleia Legislativa, o deputado Capitão Wagner (PR) fez uma transmissão ao vivo no Facebook na qual afirmou que, além das críticas ao governo do Estado, tem apresentado “muitas sugestões e muitos projetos para tentar viabilizar essas soluções”.
O parlamentar exibiu um “Plano de Segurança”, elaborado por ele, com 42 projetos e “sugestões” para reduzir a criminalidade no Ceará.
Controle
Wagner questionou a afirmação de Camilo Santana, no último domingo (28), de que o Estado teria “o controle da situação”. “Como ele [Camilo] sabe onde estão os criminosos, como ele sabe aonde estão acontecendo os crimes e a situação chegou a este ponto?”, questionou o parlamentar.
“A gente ouviu uma fala do governador negando a chegada de novas facções, mas fica dificil de acreditar porque lá no passado o governador negou que GDE, PCC e Comando Vermelho estivessem aqui no Estado, mas já estão atuando há mais de 20 ano”, enfatizou.
Ao falar da ação do Poder Judiciário, o deputado disse que diversas instituições tem sua parcela de culpa no avanço da criminalidade. “Não é culpa só do Governo do Estado, não só do governo Federal, mas é a culpa de todas as instituições que têm alguma responsabilidade. A própria Assembleia tem culpa porque não instala a CPI do Narcotráfico e não tramita os projetos que podem ajudar na área da segurança pública”, disparou.
“Se o governador der o exemplo, chamar as instituições, e de fato liderar esse movimento, eu tenho certeza que a sociedade vai estar do lado dele. Agora, se o governador continuar com esse discurso de que está tudo sob controle e de tentar baixar a poeira e apaziguar os ânimos, infelizmente a sociedade não vai estar concordando com tudo isso. A gente reconhece que o momento é difícil e que o momento é de união e, por conta disso, a gente tá aqui dando mais uma vez a nossa colaboração”, concluiu Wagner.
Intervenção
O deputado federal Domingos Neto (PSD) reafirmou a necessidade de uma intervenção federal na segurança pública do Ceará. “Em novembro passado, pedi intervenção federal na segurança pública do nosso estado. Trata-se de uma situação insustentável, triste e que precisa ser enfrentada da forma mais dinâmica possível. Estamos em estado de calamidade e só uma integração entre a nossa polícia e as forças de segurança nacionais podem ajudar a restaurar a normalidade”, ponderou.
Aliado de Camilo defende enfrentamento
e atuação da PF
Na base governista, a defesa das ações da gestão Camilo Santana norteiam o discurso de que o Estado não está inerte no combate à violência e que, assim como declarou o Chefe do Executivo, no último domingo, a situação “está sob controle“.
O deputado Audic Mota (PMDB), primeiro secretário da Assembleia Legislativa, pondera que “obviamente um evento como esse marca e chama atenção”, mas ressalta que é preciso reconhecer avanços. .
“Um momento como esse é um momento, as vezes, de se chamar atenção, retomar, e mudar um pouco o curso do que vem ocorrendo. Nós não podemos deixar de reconhecer a forte ação que o governo do Estado vem fazendo com a contratação de inúmeros policiais, a implantação do Raio em diversos municípios do estado do Ceará”
Segundo ele, a implantação do Batalhão Raio é um dos exemplos de êxito das políticas adotadas pela gestão estadual. “Onde o Raio chegou, a segurança chegou. É uma experiência com resultados concretos no nosso Estado. Obviamente é um desafio levar o Raio a todos os municípios do interior. Mas, nós sabemos que o problema, principalmente, na Capital, onde o consumo e o tráfico de drogas são bem maiores, é um problema bem mais severo. Na Capital, o desafio é maior porque há, claramente, um conflito entre facções. Facções essas que não são cearenses. Essas facções são nacionais”.
Para Audic, depois de investir em equipamentos, o Estado deveria mudar de estratégia, partindo para o enfrentamento direto das facções criminosas. “O que deve servir em um momento como aquele, e aqui fica o registro de consternação com as famílias, é talvez para que esse problema seja o problema efetivo a ser combatido. Nós estamos muito ligados ao problema da estrutura. Fizemos isso: a Assembleia autorizou e o governo comprou viaturas e armamentos, contratou novos policiais, atendeu a tropa da polícia militar em praticamente tudo o que foi requerido. Agora, eu acho que chega a hora de mudar um pouco o curso da nossa atenção, acreditando que tudo o que foi feito foi importante para preparar esse novo momento. Um momento, talvez, mais delicado e difícil, mas é um momento de levantar esse debate. Como já havia sido feito em âmbito nacional e propor que o Ceará seja uma experiência no combate a esses males que, na verdade, hoje, criam esses status paralelos, principalmente nas comunidades mais pobres, e seja um momento de enfrentamento”, destacou.
O parlamentar ainda defendeu a atuação da Polícia Federal no combate a atuação dos grupos criminosos. “Essas facções não são caseiras. Elas não são nem de Fortaleza, nem do Ceará. São facções nacionais, então, o desbaratamento, o acompanhamento do trabalho dessas facções têm que ser visto no âmbito nacional. Tem que haver uma integração entre as polícias. E quem é capaz de fazer isso? É a Polícia Federal. Que, obviamente, é quem tem estrutura e já tem o pessoal técnico e habilitado para fazer”, disse.

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