domingo, 27 de abril de 2014

Maioria dos reservatórios no Estado está com volume abaixo de 30%

Açude Arrojado Lisboa, em Banabuiú, está em nível crítico. Houve redução da pesca e a água já apresenta cheiro forte e imprópria ao uso
Nos três primeiros meses da quadra invernosa deste ano, as chuvas permanecem abaixo da média histórica e com precipitações localizadas. Resultado: praticamente não houve recarga dos principais reservatórios que asseguram abastecimento de água das cidades do Interior do Estado. A situação é crítica e tende a se agravar no decorrer do segundo semestre com o fim do período invernoso e maior consumo de água, além de perda por evaporação.
Atualmente, o nível dos reservatórios monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) é de 32,3%, apenas um por cento a mais do que o registrado no início deste ano. O quadro poderá ser agravar ainda mais tendo em vista que há fortes possibilidades de ocorrência do fenômeno El Niño a partir do segundo semestre, estendendo-se até a quadra invernosa de 2015, provocando um novo período de estiagem no sertão do Ceará.
De acordo com dados da Cogerh, no fim da estação chuvosa passada, em 2013, o volume médio acumulado no Ceará era de 42,47% e no início deste ano caiu para 31,25%. Se compararmos a situação atual com o início deste ano, houve apenas uma recarga de um por cento.
Dos 144 açudes monitorados pelo órgão, atualmente, 98 açudes estão com volume inferior a 30% e apenas três reservatórios acumulam volume superior a 90%: Curral Velho, Gavião, na Região Metropolitana da Capital, e Batalhão, em Crateús. O primeiro e último são barragens pequenas. Em março passado, havia 106 açudes com cota menor do que 30%. Também não há nenhum açude transbordando no Estado.
A situação mais crítica das bacias hidrográficas continua sendo na região dos Sertões de Crateús, que acumula um volume médio de 3,56%, seguido do Curu com 5,5% e Baixo Jaguaribe com 9,5%. O quadro mais confortável é no Alto Jaguaribe, que está com volume médio de 52,38%, seguido da Ibiapaba com 42,45% e da Bacia do Salgado 38,87%.
O histórico da quadra invernosa demonstra que o mês que registra maior volume de chuva é março, que neste ano ficou 23% abaixo da média para o período. Em abril, até ontem, a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) registrava um desvio negativo de 36,8%. Para o próximo mês de maio a tendência é de se manter a pluviometria abaixo da média.
Nos últimos cinco dias houve uma redução de chuvas no Estado. Ontem, por exemplo, choveu em apenas seis municípios e o maior registro foi em Trairi (22mm), seguido de Meruoca (14mm) e Araripe (13mm). De acordo com a meteorologista da Funceme, Cláudia Rickes, a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), principal sistema causador de chuva no Ceará, afastou-se mais para a região Norte, oscilando para os Estados do Maranhão e Pará. Entretanto, há tendência de aproximação. "Temos possibilidades de retorno das chuvas neste domingo e segunda-feira", disse ela.
O diretor de Operações da Cogerh, Ricardo Adeodato, disse que a situação é grave, pois o Estado enfrenta três anos seguidos de seca, mas ressaltou as ações implantadas pelo governo. "Usamos a inteligência, o esforço e fazemos o monitoramento semanal para que não falte água em nenhum município", frisou. "No segundo semestre, vamos dar prioridade para o uso da água para o consumo humano".
Comitês
Ricardo Adeodato explicou que a utilização da água a partir de julho próximo será amplamente discutida com os usuários e os comitês de bacias hidrográficas. "A população deve ter consciência do quadro atual e precisa economizar água, mas infelizmente muitos desperdiçam até nas cidades que enfrentam dificuldades de abastecimento".
As bacias hidrográficas da Região Metropolitana e do Vale do Jaguaribe estão em situação confortável. Os dois maiores açudes do Ceará, o Castanhão acumula 2,6 bilhões de metros cúbicos (39,7%) e o Orós está com 1,2 bilhão de metros cúbicos (60%). Por meio do Eixão das Águas e do Canal do Trabalhador há fornecimento de água para atender a demanda diária da Região Metropolitana. "Essa situação, entretanto, não é homogênea e temos regiões que enfrentam quadro crítico", disse Adeodato. "Para cada município, temos uma solução adequada, perfuração de poços, carro-pipa para as áreas isoladas de população difusa e transferência de água por meio de adutoras para os centros populosos".
Na região do Sertão Central, os açudes atingem nível crítico histórico. Os dois maiores reservatórios públicos, o Arrojado Lisboa, em Banabuiú, e o Antônio Ferreira Antero, mais conhecido como Fogareiro, em Quixeramobim, estão com o menor nível de água registrado desde a construção, conforme dados da Cogerh.
Houve redução da pesca em pelo menos 40%. O odor da água também começa a ser sentido. O problema é a falta de chuvas nos leitos dos rios, com registros abaixo da média histórica. Os moradores do entorno do Açude Fogareiro, em Quixeramobim, observam assustados o baixo nível do reservatório e o quadro atual aponta para a necessidade do município começar a economizar água. O agricultor Edmundo de Freitas mora próximo à barragem. "Nunca tinha visto esse açude desse jeito. Pensava que isso nunca ia acontecer", comentou.

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