domingo, 13 de abril de 2014

Restam menos de três meses para definir alianças eleitorais

Disputa pelo Planalto trará muitas dificuldades aos principais candidatos oposicionistas
Na semana em que oposição e base vão definir os rumos de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que pode apimentar ainda mais a campanha eleitoral deste ano, o Diário do Nordeste traça um diagnóstico da reta final das negociações.
Serão definidos candidatos para o pleito de outubro. O primeiro turno das eleições está marcado para 5 de outubro. O segundo turno será em 26 de outubro. Antes disso, entre os dias 10 e 30 de junho, os 32 partidos, nos 26 Estados e no Distrito Federal estarão autorizados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a realizar convenções partidárias.
E embora as disputas estaduais tenham nuances próprias, elas também interessam e afetam diretamente a disputa no Palácio do Planalto. Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos e/ou Marina Silva (PSB) tiveram, na semana passada, um esboço de que apoios poderão ter em cada região do Brasil e com quem não contarão mais. Isso porque no dia 5 deste mês terminou o prazo para desincompatibilizações.
PMDB, o 'fiel da balança'
Com as mudanças do início do mês, o PMDB passou a governar sete Estados, tornando-se o partido com mais governadores (pelo menos até o fim deste ano).
De acordo com o cientista político Francisco Moreira, da Universidade de Fortaleza (Unifor), o crescimento no número de estados governados pelo PMDB vem acompanhado de aumento na influência do partido junto ao governo federal.
"Caso o PMDB ganhe mais governos estaduais em 2014, o poder de barganha, que já é grande, tende a aumentar. Com isso, a tendência é que essas tensões piorem, principalmente em caso de reeleição da presidente Dilma Rousseff", avalia. A opinião é corroborada pelo também cientista político, Josênio Parente, da Universidade Federal do Ceará. Para ele, "sem dúvida, isso é uma característica de um Brasil tradicional". Parente observa ainda que "todo governo, da redemocratização até agora, tem governado com o PMDB, que é um partido ao mesmo tempo grande e frágil". Ele brinca com a postura da legenda nessas eleições, fazendo uma analogia com o mundo animal.
"Caso fosse um predador, ele seria mais semelhante a uma raposa", compara. Já o cientista político da Universidade Brasília (UnB), o norte-americano naturalizado brasileiro, David Fleischer, observa que "o PMDB está, cada vez mais, procurando se distanciar de coligações com o PT, em muitos estados".
Ele acrescenta que independentemente de quem venha a ser eleito presidente da República, não poderá "governar sem o PMDB", que pode se configurar como o "fiel da balança" antes da definição final das alianças, passando pela campanha, autorizada a partir de 6 de julho.
Panoramas estaduais
Seis governadores em segundo mandato apresentaram a renúncia para poderem disputar outro cargo nas eleições deste ano.
Ex-aliado do governo federal, Eduardo Campos deixou o governo de Pernambuco para disputar a Presidência contra a presidente Dilma e o senador Aécio Neves .
No Rio de Janeiro, o peemedebista Sérgio Cabral entregou o cargo em meio a uma crise de popularidade e abriu espaço para seu vice, Luiz Fernando Pezão (PMDB), tentar se reeleger.
Cabral tentará viabilizar sua candidatura ao Senado. Também assinaram a renúncia para tentar vaga no Senado Omar Aziz (PSD-AM), Antônio Anastasia (PSDB-MG), Wilson Martins (PSB-PI) e Anchieta Júnior (PSDB-RR). Seis governadores que não podem mais disputar a reeleição anunciaram que irão concluir o mandato: Cid Gomes (Pros-CE), Roseana Sarney (PMDB-MA), Jaques Wagner (PT-BA), Teotônio Vilela Filho (PSDB-AL), André Puccinelli (PMDB-MS), e Silval Barbosa (PMDB-MT).
OPINIÃO do especialista
Movimentação do PMDB gera impasse na base
Francisco Moreira
Cientista político
Há uma aflição do governo Dilma por conta da CPI da Petrobras. A oposição, no entanto, não tem um projeto que lhe dê visibilidade, que lhe ponha no centro do processo eleitoral, ainda muito imprevisível. Não há muitos elementos concretos, a não ser a crise na base, provocada pelo PMDB. O partido criou uma situação difícil para o governo. Nessa negociação, do ponto de vista dos Estados, o PT está numa tentativa de blindar a Dilma e termina cedendo candidaturas como forma de acalmar a base. Mas a coisa não está vingando. As negociações não funcionaram a contento. A CPI está saindo, apesar de todo o esforço, e o PMDB ganhou um espaço maior.
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Oposição tem problemas e tenta exaltar ex-presidentes
De acordo com as duas pesquisas de intenção de voto mais recentemente divulgadas, a provável candidata à reeleição, presidente Dilma Rousseff, oscilou negativamente na preferência do eleitorado, mas ainda mantém boas possibilidades de levar as eleições ainda no primeiro turno. Nesse cenário, seus principais adversários, o tucano Aécio Neves (MG) e o socialista Eduardo Campos (PE) não conseguem decolar. No caso do pernambucano, há o agravante de ter uma pré-candidata a vice apresentando índices mais empolgantes do que os dele nas pesquisas.
PSDB
Histórico adversário petista, o PSDB ao mesmo tempo lamenta e tenta minimizar o fato de ter sido a sigla que mais perdeu com as trocas de comando, a partir das desincompatibilizações. A sigla passou de oito para seis governadores. Apesar disso, Francisco Moreira, cientista político da Unifor, avalia que o impacto dessas perdas sobre a pré-candidatura de Aécio Neves não deve ser muito significativo, já que a fuga de quadros no partido vem acontecendo gradualmente. "Houve uma fuga de políticos do PSDB para novos partidos como o PROS e o Solidariedade. Com isso, ele vai depender muito da competência do Aécio nessa campanha, mas no cenário das oposições ainda é o PSDB quem tem mais possibilidades", analisa. O partido também parece ter abandonado a estratégia de esconder o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que agora aparece em um número maior de eventos tucanos e tem dado mais entrevistas. FHC também tem feito o embate direto com o PT. Além dessas razões, Moreira desdenha da outra chapa oposicionista. "Os índices de Campos não são significativos", avalia o cientista político.
PSB
Nesse quesito, David Fleischer, cientista político da UnB, mostra discordância e enxerga mais competitividade na aliança entre Campos e Marina.
Ele também diz não acreditar que a ambientalista seria candidata ao Planalto, mesmo que as pesquisas a estimulem a isso. "A chapa do PSB será realmente Campos para presidente e Marina para vice. O que vai mudar vai ser a consolidação dela na chapa e a participação na campanha para valer", afirma. Outra estratégia curiosa do PSB é tentar desvincular Dilma de Lula. O socialista tem feito um discurso de gratidão ao petista, ao mesmo tempo em que ataca a atual presidente e a desqualifica como uma sucessora de êxito ao lulismo.
Dilma Rousseff busca driblar crise

Aparecer como virtual vencedora do pleito de outubro há pouco menos de seis meses das eleições, pode parecer um cenário reconfortante para a presidente Dilma Rousseff, pré-candidata à reeleição pelo PT. Mas não é bem esse o quadro.
A chefe do Executivo tem uma sombra politicamente poderosa: a do ex-presidente Lula, que também aparece muito bem cotado nas pesquisas eleitorais das últimas semanas e é o personagem de uma campanha de bastidores intitulada "Volta Lula".
Até adversários de Dilma têm tentado alimentar a ideia de que o simples fato de haver grupos petistas ventilando a candidatura do ex-presidente atestariam o fracasso da atual gestão.
Apesar disso, o cientista político David Fleischer não enxerga a possibilidade de alteração na candidatura petista. "Lula quer fazer campanha para reeleger Dilma. Está tentando convencê-la a mudar certas coisas rapidamente e radicalmente, mas não creio que mesma ela fracassando, ele venha a ser candidato".
Se for esse o caso, essa seria uma preocupação a menos para a presidente Dilma, mas há ainda outros três grandes problemas a resolver nos próximos três meses. Um deles, já vem se arrastando há algum tempo, a rebelião da base e a formação do chamado "blocão".
Outra questão ocupa a mente de governistas há algumas semanas: a provável instalação de uma CPI para investigar a Petrobras. E há, por fim, uma tensão que deve se arrastar pelo menos até junho, a realização da Copa do Mundo. É com esses elementos que Dilma tentará não perder mais espaço e evitar o crescimento de Campos e Aécio.

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