Seis meses após o fim do prazo concedido pelo governo federal para
que os municípios se adequassem à Política Nacional de Resíduos Sólidos
(PNRS) a maioria das cidades do Estado do Ceará não conseguiu, ainda,
elaborar o Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS), peça
primordial na garantia do recebimento de recursos da União para dar fim
aos lixões e instalar aterros sanitários, por meio de sistemas
consorciados.
Dos 184 municípios que formam o Estado, apenas a capital, Fortaleza,
cumpriu o prazo estabelecido para criação do PGRS. Até o fim do ano
passado, somente os 27 municípios inseridos na Bacia do Poti, nas
regiões de Crateús e Inhamuns, também tinham conseguido elaborar seus
planos de gerenciamento.
Nos últimos anos houve pouco avanço em relação à criação de aterros
sanitários no Estado. O Ceará passou cerca de 16 anos com apenas quatro
aterros, localizados nos municípios de Caucaia, Aquiraz, Maracanaú e
Sobral. Recentemente, dois novos aterros foram construídos, nos
municípios de Mauriti e Brejo Santo, ambos na região do Cariri. O número
de aterros existentes no Ceará, no entanto, é insignificante em relação
ao que determina a legislação em vigor.
De olho nos atrasos, o Ministério Público do Ceará (MPCE) cobra dos
municípios o cumprimento da PNRS, realizando, em muitos casos, Termos de
Ajustamento de Condutas (TACs). Pela Lei, o lixo tem que ser
encaminhado para um aterro sanitário, forrado com manta impermeável,
para evitar a contaminação do solo. O chorume deve ser tratado e o gás
metano tem que ser queimado. Quem não cumprir a legislação estará
submetido às punições previstas na Lei de Crimes Ambientais, que prevê
multa de R$ 5 mil a R$ 50 milhões.
Falta de recursos
Os municípios, por sua vez, alegam falta de condições financeiras para
elaboração dos PGRS e instalação dos aterros sanitários. "Não há um
único município de pequeno e médio porte no Ceará que consiga elaborar
seu Plano de Gerenciamento e construir, individualmente, um aterro
sanitário. Toda a demora em relação ao cumprimento da Política Nacional
se dá por falta de recurso nos municípios. Quando criaram a legislação
esqueceram de disponibilizar mecanismos que garantissem o aporte de
recurso para os municípios brasileiros", avaliou o presidente da
Associação dos Municípios do Estado do Ceará (Aprece), Expedito José do
Nascimento.
Prefeito do município de Piquet Carneiro, na região do Sertão Central,
ele observou que a entidade está buscando parceria com o governo do
Estado para que o problema seja solucionado em definitivo. "Sem a
participação do Estado é impossível para os municípios cumprirem o que a
Lei determina. Nós estamos dialogando sobre o assunto e, ainda nesta
semana, deveremos nos reunir com o secretário das Cidades, Ivo Gomes,
para buscarmos avançar na elaboração dos planos de gerenciamento",
disse.
O presidente da Aprece também salientou a necessidade da participação
da iniciativa privada como outra forma de solucionar as demandas
existentes. "Há empresas Portuguesas, e de outros países, inclusive,
interessas em instalar usinas de reciclagem no Ceará. Essa seria uma
excelente oportunidade para que os custos de elaboração de projetos
fossem diminuídos", observou Expedito do Nascimento informando, ainda,
que neste ano serão realizados oito seminários para discussão do tema. O
primeiro deles, sem data informada, acontecerá no município de Gramado,
no Rio Grande do Sul.
Prioridade
Conforme técnicos ligados à Secretaria de Cidades do Ceará, a criação
de mecanismos que possam auxiliar os municípios cearenses a solucionar o
problema, em definitivo, é vista como prioridade dentro do atual
governo.
A secretária executiva do Conselho de Políticas e Gestão do Meio
Ambiente (Conpam), Maria Dias, informou que o Estado irá custear as
despesas para elaboração dos PGRS. Os planos serão regionalizados e
atenderão a todos os municípios do Ceará. "Nós entramos na fase
licitatória para criação dos planos regionais. Ao todo, serão
construídos 14 planos de gerenciamento que, segundo nossa expectativa,
deverão estar prontos até o fim deste ano", disse.
O Estado também já iniciou a busca por modelos de implantação de
consórcios entre municípios para gestão de aterros sanitários. O assunto
foi discutido, recentemente, pelo secretário de Cidades, Ivo Gomes,
junto a consultores do Banco Mundial, por meio de videoconferência.
A partir da consultoria realizada pelo Banco Mundial, foram
apresentadas alternativas de governança para o aterro do sanitário da
Região Metropolitana do Cariri (RMC), que já possui projeto de execução
elaborado, restando, apenas, recursos para sua aplicabilidade, que
poderão ser implementadas em outros consórcios formados no Estado.
O governo do Estado pretende viabilizar a elaboração dos Planos de
Gestão Integrada de Resíduos e a construção de aterros sanitários, por
meio de consórcios. "É desejo do governador Camilo Santana que os
municípios cearenses realizem os consórcios, sem impormos a eles um
modelo, mas sim, uma construção conjunta e discutida", ressaltou, em
nota oficial, o secretário Ivo Gomes, acrescentando que um piloto do
projeto deverá ser feito ainda neste ano.
Em setembro de 2013, o Diário do Nordeste publicou dois cadernos
especiais sobre o contexto do Estado do Ceará dentro da PNRS. De lá para
cá, no entanto, quase nada mudou no cenário, a não ser a intenção
manifestada pelo governo do Estado em financiar a construção dos
aterros.
FIQUE POR DENTRO
Legislação visa mudança de comportamento
A Lei Nº 12.305/10, que institui a Política Nacional de Resíduos
Sólidos (PNRS) pretende reduzir a geração de resíduos, a partir
desenvolvimento de hábitos de consumo sustentáveis e de instrumentos
para propiciar o aumento da reciclagem e da reutilização dos resíduos
(pode ser reciclado ou reaproveitado) e a destinação ambientalmente
adequada dos rejeitos (não pode ser reciclado ou reutilizado).
Dos 184 municípios do Ceará, apenas Fortaleza elaborou seu Plano
Municipal de Resíduos Sólidos no prazo. Outros 27 municípios inseridos
na Bacia do Poti, na região dos Inhamuns, também já tiveram seus planos
confeccionados. No entanto, falta recurso para aquisição de terrenos e
construção dos aterros sanitários. Por enquanto, o Estado só tem aterros
sanitários em Caucaia, Aquiraz, Maracanaú, Sobral, Mauriti e Brejo
Santo.

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