A crise entre o governo Dilma Rousseff (PT) e o Congresso Nacional
chegou ao auge na tarde de ontem. Após ter passado apenas 77 dias no
cargo e participar de uma sessão com direito a bate-boca na Câmara dos
Deputados, Cid Gomes (Pros), deixou ontem o Ministério da Educação.
Minutos antes o PMDB ameaçara deixar a coalizão governista. Tensa, a
relação entre o Executivo e o Legislativo registrou o nível máximo de
desgaste depois que Cid, dedo em riste em direção à Mesa Diretora da
Câmara, afirmou preferir "ser acusado por ele de mal educado", o
presidente Eduardo Cunha (PMDB-RJ), "do que ser como ele, acusado de
achaque".
Em tom de enfrentamento, Cid disse não concordar com a postura de quem
"mesmo estando no governo, os seus partidos participando do governo, têm
uma postura de oportunismo".
"Partidos de oposição têm o dever de fazer oposição. Partidos de
situação têm o dever de ser situação ou então larguem o osso, saiam do
governo", afirmou o ex-governador do Ceará.
A sessão convocada para que ele desse explicações sobre sua declaração
de que haveria entre os deputados "300 ou 400 achacadores"
transformou-se em um intenso bate-boca que culminou com o abandono da
sessão pelo então ministro. O PMDB ameaçou retaliar o governo retirando
seu apoio no Congresso Nacional e Cid seguiu ao Palácio do Planalto, de
onde já saiu como ex-ministro.
A saída de Cid do cargo foi anunciada por Eduardo Cunha, que ainda
estava no plenário da Câmara, a partir de informação que havia sido
repassada por telefone pelo ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante.
O governador do Ceará, Camilo Santana (PT), e os prefeitos de
Fortaleza, Roberto Cláudio (PSB), e de Sobral, Veveu Arruda (PT),
acompanharam o ministro durante a sessão. Outros apoiadores, como os
deputados estaduais Manoel Duca (Pros)e Osmar Baquit (SD), foram
retirados das galerias por ordem de Cunha. Eles ficaram em frente a um
telão instalado no Salão Verde para acompanhar a sessão.
Convocação
Ainda ministro, Cid foi convocado ao plenário da Câmara para explicar
declaração, feita há três semanas, em Belém, de que haveria na Casa "de
300 a 400 achacadores" que se aproveitam da fragilidade do governo para
obter vantagens.
Cunha chamou o ministro de "mal-educado" e garantiu a convocação,
proposta por Mendonça Filho (DEM-PE), para que Cid esclarecesse suas
afirmações. Sob alegação de estar doente, Cid internou-se em um hospital
de São Paulo e não compareceu à Câmara na semana passada.
Ontem, ele insistiu nas críticas e escolheu Cunha, desafeto do
Planalto, como o principal alvo. Cid Gomes ouviu boa parte das falas dos
parlamentares de pé, na tribuna à esquerda do plenário. Em vários
momentos, sorria com ar de ironia.
Após apelo do líder do PSOL, Chico Alencar (RJ), sentou-se de frente
para Cunha. Recebeu cumprimentos de alguns parlamentares, entre eles, o
deputado Jean Wyllys (PSOL- RJ). Ao retornar à tribuna, foi criticado
por Sérgio Zveiter (PSD-RJ), que o acusou de "estar fazendo papel de
palhaço". "O senhor me respeite", reagiu Cid. "O senhor nem parlamentar é
para falar desta forma", disse Cunha, cortando o microfone do ministro.
Agressão
Cid deixou o plenário antes do fim da sessão. "Infelizmente fui
convidado e agredido. Nesta condição, penso eu que estou liberado para
sair do recinto e é o que estou fazendo", afirmou em meio a um tumulto
formado por militantes e seguranças. Ele saiu dirigindo um carro em
direção ao Planalto.
Logo que Cid deixou a Câmara, o PMDB ameaçou sair da base e Cunha
anunciou que votaria o projeto que estende às aposentadorias o critério
de reajuste do salário mínimo, pauta prejudicial ao Planalto. Com a
notícia da demissão, o partido aceitou o apelo do governo e liderou um
acordo para adiar a votação.
Sucessão
Cunha afirmou ontem que seu partido, o PMDB, "não tem nenhum interesse"
em indicar o substituto de Cid no ministério da Educação. "Não é da
nossa alçada, não é da nossa conta. A presidente escolhe quem entender
que é melhor para ocupar o cargo", afirmou o presidente da Câmara.
Questionado sobre quem seria o próximo ministro da pasta, Cunha fez uma
brincadeira: "O próximo a cair ou a ser nomeado?", questionou.
De acordo com Cunha, Cid se mostrou "desqualificado" para o cargo. "No
momento em que um representante do Executivo vem para cá para agredir o
Poder Legislativo, não poderia ter outro destino", disse. Outro desfecho
levaria a uma consequência "desastrosa". "Seria a perda da harmonia
entre os Poderes. Isso não pode ter acontecido do jeito que aconteceu",
criticou o peemedebista. Para Cunha, o caso não fragiliza o governo.
"Acho que o governo tem consciência de que sua escolha foi equivocada".
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