Minutos antes de o ex-governador Tasso Jereissati (PSDB) admitir que,
“se for imprescindível”, topará discutir candidatura ao Senado em 2014,
um tom de sutil cobrança permeou o discurso de líderes presentes na
reunião de cúpula da última terça-feira, em Brasília. “Muito cearense no
meu estado comenta que o Ceará precisa do retorno do Tasso”, teria dito
o presidente do PSDB do Acre, Sebastião Bocalom. Chamada semelhante
fora feita pelo dirigente da sigla de São Paulo, Antônio Mendes Thame,
conforme relatou o deputado federal Raimundo Gomes de Matos (PSDB-CE).
Tasso ouviu – e, na medida do que lhe foi possível, não decepcionou a
plateia. Teria ele se convencido?
Os mais chegados ainda dizem
que Tasso foge das urnas como o diabo foge da cruz, sobretudo pela fase
empresarial que vive – ele está expandindo os negócios para outros
estados do País – e pela nuvem de incertezas que paira sobre suas
chances de vitória.
“Há elementos subjetivos e racionais a
serem avaliados. Acho bastante arriscado. A derrota de 2010 foi
extremamente traumática, do ponto de vista político e pessoal, pelo
rompimento com os Ferreira Gomes. Mas, talvez, esse ressentimento possa
induzir um movimento de ‘dar o troco’, para, pelo menos, atrapalhar a
disputa para o lado do governador Cid Gomes (Pros)”, avaliou a cientista
política da Universidade Federal do Ceará (UFC) Rejane Vasconcelos, que
publicou estudo sobre a campanha tucana de 2010.
Não há
cálculo conclusivo sobre os riscos, mas fatores que pesam contra e a
favor da empreitada. Por mais contraditória que a hipótese possa
parecer, incidiria a favor de Tasso, por exemplo, a “quarentena”
política dos últimos quatro anos, nos quais ele se manteve distante da
política e livre, portanto, de desgastes.
“Na medida em que um
politico se afasta, ele passa a ser evocado muito mais pelas
qualidades. Há uma evocação mais benevolente do público. Você tinha toda
uma gritaria contra Getúlio Vargas, mas quando ele se suicida (1954)
vai todo mundo para a rua. A imagem de Leonel Brizola hoje é muito
diferente da imagem que se tinha quando ele voltou a disputar a
politica. O Tasso é a figura mítica do ‘velho’ que pode voltar”,
analisou.
Na contramão, porém, ela destaca que o fenômeno do
“situacionismo” político, que imprime força extra a partidos e
lideranças que detêm a máquina pública, e a falta de estrutura
partidária do PSDB no Ceará são elementos que freiam qualquer ímpeto de
disposição de Tasso para o pleito. “Como persona, Tasso é forte, mas ele
não tem mais a parte formal necessária”, avaliou.
A conjuntura
Entre
prós e contras, receios e desejos, pesará para o fim do dilema
tassista, principalmente, o desenho final do cenário eleitoral. Aliados
têm dito que o desempenho da presidente Dilma Rousseff (PT) nas próximas
semanas e a definição de candidaturas e alianças da chapa comandada por
Cid no Ceará serão fundamentais para a decisão.
Por mais
que Dilma lidere com folga as pesquisas de intenção de voto, o deputado
federal Gomes de Matos aposta que “o contexto de 2014 é diferente”, e
que a dupla Dilma-Lula não deverá ter o mesmo potencial de puxar votos
para seus candidatos ao Senado como tiveram em 2010. Avaliação nada
científica, mas que é calculada e levada em conta nas conversas de
bastidor do ninho tucano.
O nível de participação da dupla
nacional na campanha cearense também é fator considerado, assim como o
nome dos adversários que Tasso poderá enfrentar caso entre na briga pelo
Senado.
Tucanos ouvidos pelo O POVO afirmaram que ele
assiste ao processo de escolha dos nomes que comporão a chapa de Cid.
Entre os mais cotados, estão o deputado federal José Guimarães (PT) e o
senador Inácio Arruda (PCdoB).
Assim, a expectativa é que
Tasso só dê fim a seu dilema nos últimos minutos do prazo, que se
encerra em junho. Como já é conhecido do eleitorado, não tem a pressa
dos que precisam se antecipar e construírem uma imagem. O impasse e o
fator surpresa que sua entrada no jogo pode representar tornam o cenário
pré-eleitoral de 2014 uma das mais imprevisíveis dos ultimos anos.
PRÓ E CONTRA
O que levaria Tasso a topar:
- Pressão nacional e responsabilidade com a candidatura presidencial de Aécio Neves;
- Tempo de “quarentena” teria sido favorável à recomposição da imagem, segundo especialista;
-
Conjuntura política diferenciada, na qual alguns candidatos a
governador, possivelmente, não terão o tradicional peso para emplacar o
candidato ao senador;
- Sentimento de “revanche” de uma possível vitória. Entrada também pode gerar dificuldades para os Ferreira Gomes.
O que levaria Tasso a desistir:
- Nova derrota teria peso negativo ainda mais forte na história política do tucano;
- Momento empresarial e pressão familiar;
- Situacionismo político;
- Falta de estrutura partidária e poucas perspectivas de alianças fortes.
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