sexta-feira, 2 de maio de 2014

O talvez sob pressão de Tasso e o difícil dilema de sua candidatura

Minutos antes de o ex-governador Tasso Jereissati (PSDB) admitir que, “se for imprescindível”, topará discutir candidatura ao Senado em 2014, um tom de sutil cobrança permeou o discurso de líderes presentes na reunião de cúpula da última terça-feira, em Brasília. “Muito cearense no meu estado comenta que o Ceará precisa do retorno do Tasso”, teria dito o presidente do PSDB do Acre, Sebastião Bocalom. Chamada semelhante fora feita pelo dirigente da sigla de São Paulo, Antônio Mendes Thame, conforme relatou o deputado federal Raimundo Gomes de Matos (PSDB-CE). Tasso ouviu – e, na medida do que lhe foi possível, não decepcionou a plateia. Teria ele se convencido?

Os mais chegados ainda dizem que Tasso foge das urnas como o diabo foge da cruz, sobretudo pela fase empresarial que vive – ele está expandindo os negócios para outros estados do País – e pela nuvem de incertezas que paira sobre suas chances de vitória.

“Há elementos subjetivos e racionais a serem avaliados. Acho bastante arriscado. A derrota de 2010 foi extremamente traumática, do ponto de vista político e pessoal, pelo rompimento com os Ferreira Gomes. Mas, talvez, esse ressentimento possa induzir um movimento de ‘dar o troco’, para, pelo menos, atrapalhar a disputa para o lado do governador Cid Gomes (Pros)”, avaliou a cientista política da Universidade Federal do Ceará (UFC) Rejane Vasconcelos, que publicou estudo sobre a campanha tucana de 2010.

Não há cálculo conclusivo sobre os riscos, mas fatores que pesam contra e a favor da empreitada. Por mais contraditória que a hipótese possa parecer, incidiria a favor de Tasso, por exemplo, a “quarentena” política dos últimos quatro anos, nos quais ele se manteve distante da política e livre, portanto, de desgastes.

“Na medida em que um politico se afasta, ele passa a ser evocado muito mais pelas qualidades. Há uma evocação mais benevolente do público. Você tinha toda uma gritaria contra Getúlio Vargas, mas quando ele se suicida (1954) vai todo mundo para a rua. A imagem de Leonel Brizola hoje é muito diferente da imagem que se tinha quando ele voltou a disputar a politica. O Tasso é a figura mítica do ‘velho’ que pode voltar”, analisou.

Na contramão, porém, ela destaca que o fenômeno do “situacionismo” político, que imprime força extra a partidos e lideranças que detêm a máquina pública, e a falta de estrutura partidária do PSDB no Ceará são elementos que freiam qualquer ímpeto de disposição de Tasso para o pleito. “Como persona, Tasso é forte, mas ele não tem mais a parte formal necessária”, avaliou.

A conjuntura
Entre prós e contras, receios e desejos, pesará para o fim do dilema tassista, principalmente, o desenho final do cenário eleitoral. Aliados têm dito que o desempenho da presidente Dilma Rousseff (PT) nas próximas semanas e a definição de candidaturas e alianças da chapa comandada por Cid no Ceará serão fundamentais para a decisão.

Por mais que Dilma lidere com folga as pesquisas de intenção de voto, o deputado federal Gomes de Matos aposta que “o contexto de 2014 é diferente”, e que a dupla Dilma-Lula não deverá ter o mesmo potencial de puxar votos para seus candidatos ao Senado como tiveram em 2010. Avaliação nada científica, mas que é calculada e levada em conta nas conversas de bastidor do ninho tucano.

O nível de participação da dupla nacional na campanha cearense também é fator considerado, assim como o nome dos adversários que Tasso poderá enfrentar caso entre na briga pelo Senado.

Tucanos ouvidos pelo O POVO afirmaram que ele assiste ao processo de escolha dos nomes que comporão a chapa de Cid. Entre os mais cotados, estão o deputado federal José Guimarães (PT) e o senador Inácio Arruda (PCdoB).

Assim, a expectativa é que Tasso só dê fim a seu dilema nos últimos minutos do prazo, que se encerra em junho. Como já é conhecido do eleitorado, não tem a pressa dos que precisam se antecipar e construírem uma imagem. O impasse e o fator surpresa que sua entrada no jogo pode representar tornam o cenário pré-eleitoral de 2014 uma das mais imprevisíveis dos ultimos anos.

PRÓ E CONTRA

O que levaria Tasso a topar:

- Pressão nacional e responsabilidade com a candidatura presidencial de Aécio Neves;

- Tempo de “quarentena” teria sido favorável à recomposição da imagem, segundo especialista;

- Conjuntura política diferenciada, na qual alguns candidatos a governador, possivelmente, não terão o tradicional peso para emplacar o candidato ao senador;

- Sentimento de “revanche” de uma possível vitória. Entrada também pode gerar dificuldades para os Ferreira Gomes.

O que levaria Tasso a desistir:

- Nova derrota teria peso negativo ainda mais forte na história política do tucano;

- Momento empresarial e pressão familiar;

- Situacionismo político;

- Falta de estrutura partidária e poucas perspectivas de alianças fortes.

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