Abusar e explorar sexualmente crianças e adolescentes é crime. Ainda
assim, o Disque 100 - um dos instrumentos de denúncia mais difundidos do
País - recebeu, só no ano passado, 1.363 denúncias de violência sexual
do Ceará, o que dá uma média mensal de 113 queixas. Em 2012, foram 1.968
registros e em 2011, elas somaram 1.273.
Existe, entretanto, um grande número de subnotificação, já que na
maioria dos casos a vítima não verbaliza a violência e o agressor é uma
pessoa da família ou alguém próximo. Apesar de ser uma realidade que já
faz parte do cotidiano da cidade, com a proximidade da Copa do Mundo, a
preocupação aumenta devido ao grande fluxo de turistas que deverá
visitar Fortaleza, deixando em situação ainda mais vulnerável crianças e
adolescentes alvo desse tipo de crime.
Mesmo com o índice alarmante de denúncias de exploração sexual, a
Capital ainda não conta com uma rede consolidada de proteção à criança e
ao adolescente. Durante a Copa das Confederações, por exemplo, quando
Fortaleza sediou três jogos, o plantão da única Delegacia de Combate à
Exploração da Criança e do Adolescente (Dececa) encerrava às 22h,
justamente quando a rede de exploração sexual se intensifica.
"A gente percebeu que a rede, que deveria estar vigilante com
delegacias abertas 24 horas durante a Copa do Mundo, não funcionou",
denuncia Talita Maciel, advogada do Centro de Defesa da Criança e do
Adolescente (Cedeca). Ela acrescenta que além desse sistema já ser
fragilizado nos trabalhos cotidianos, durante o grande evento
efetivamente não houve nenhum reforço. Apesar de ter 184 municípios, o
Ceará só conta com uma Delegacia de Combate à Exploração de Crianças e
Adolescentes.
Para agravar a situação, a unidade não funciona à noite e nem nos fins
de semana, quando ocorrem maior parte dos crimes. Nesse período, as
demandas são encaminhadas à Delegacia da Mulher. A defasagem faz com que
muitos crimes não sejam apurados. Para dar conta da demanda, cada vez
mais crescente, a advogada do Cedeca destaca que o Ceará precisaria de
mais delegacias especializadas.
Após visitar todas as instituições que prestam atendimento a menores
vítimas de violência sexual, o Cedeca pretende lançar, na primeira
semana de junho, um documento com dados do sistema de atendimento às
vítimas do Ceará. O material trará esclarecimentos sobre o que deve ser
feito pela rede em defesa das vítimas de exploração sexual no Estado.
Rede
"É preciso que essa rede exista não só na Copa do Mundo, deve ser um
trabalho que vai além deste período. E mesmo durante o grande evento,
não basta ficar na delegacia esperando os casos chegarem, é preciso ser
feito um trabalho de busca ativa em pontos estratégicos. Todos deverão
estar atentos. Inclusive, deve ser feito um trabalho preventivo,
iniciado antes da Copa, para saber quais redes estão se articulando para
a exploração sexual", diz.
Sobre a defasagem de delegacias de combate à exploração de crianças e
adolescentes, a Polícia Civil afirma que está em andamento um projeto
para ampliação da Dececa, além de um estudo de viabilização de nove
unidades da especializada no Interior.
Comitê local irá garantir ações estratégicas
Em nota, a Secretaria de Cidadania e Direitos Humanos (SCDH) informa
que a Prefeitura compõe o Comitê Local da Proteção Integral de Crianças e
Adolescentes, cujo objetivo é garantir ações estratégicas para o
fortalecimento das redes de proteção integral de crianças e adolescentes
durante megaeventos, a exemplo da Copa do Mundo.
"Todos os dias, equipes de abordagem social de rua da Prefeitura do
governo do Estado atuarão nas áreas consideradas de maior possibilidade
de ocorrência de violação de direitos de crianças e adolescentes.
Havendo a identificação de alguma situação desse tipo, os educadores
sociais acionarão o Plantão Integrado de Proteção - serviço responsável
pelo atendimento e encaminhamento de crianças e adolescentes vítimas de
violação de direitos. O referido serviço será composto pelas
instituições que fazem parte do Sistema de Garantia de Direitos",
salienta.
Mobilização
A nota acrescenta ainda que durante todo o ano, a Prefeitura, através
do trabalho feito pela Rede Aquarela, atua mobilizando e articulando as
instituições existentes nas comunidades de Fortaleza, desenvolvendo
ações de sensibilização, informação e mobilização das comunidades quanto
ao enfrentamento à violência contra crianças e adolescentes.
SAIBA MAIS
Violência sexual - Fenômeno que envolve qualquer
situação de jogo, ato ou relação sexual, homo ou heterossexual,
envolvendo uma pessoa mais velha e uma criança ou adolescente. Se
expressa por meio da exploração e/ou abuso sexual.
Abuso Sexual - É a utilização da criança ou
adolescente em uma relação de poder desigual, geralmente, por pessoas
muito próximas, que se aproveitam dessa relação de poder e de confiança
para satisfazer seus desejos sexuais. Podem ocorrer com ou sem violência
física, mas a violência psicológica está sempre presente.
Exploração sexual - É a utilização sexual de crianças e adolescentes com fins comerciais e de lucro ou por alguma troca.
Mais informações:
Disque denúncia estadual - 0800.285.1407
Disque denúncia municipal - 0800.285.0880 / Disque 100
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