Entre as unidades da federação, o Ceará saltou do 20º para o terceiro lugar em taxa de óbitos (por 100 mil habitantes) por arma de fogo no Brasil. O índice era 10,6 no ano de 2002 e chegou a 36,7 em 2012. No Brasil, em igual período, passou de 21,7 para 21,9 mortes por arma de fogo a cada 100 mil habitantes. Enquanto o crescimento dessa taxa no País foi de 0,5%, no Ceará variou 245%. No Nordeste, a taxa de óbito subiu 71,3% em uma década e chegou a 31,5.
Se forem consideradas apenas as vítimas jovens, as taxas de óbito são ainda mais altas. No Ceará, 82,9, e no Brasil, 47,6. Os dados são do estudo Mapa da Violência 2015 - Mortes Matadas por Armas de Fogo, do sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, divulgado pela Unesco com base em dados do governo federal.
No Brasil
Aos 19 anos, os jovens brasileiros estão em perigo. Se forem negros e homens, o risco aumenta. É esse o perfil da maior parte das vítimas de homicídios por arma de fogo no Brasil. Apesar do ritmo de crescimento da violência ter se reduzido na última década, o extermínio de jovens - especialmente negros - ainda ameaça o futuro do País.
O estudo Mapa da Violência mostra que todo ano morre no Brasil 285% mais jovens de 15 a 29 anos do que pessoas em outras faixas etárias. A vitimização juvenil se repete em todos os Estados e todas as capitais. Em Vitória, no Espírito Santo, morrem 587% mais jovens do que a população em geral. Em Maceió (AL), a capital mais violenta do País, 489% a mais. Em Florianópolis (SC), com uma das menores taxas de homicídios, ainda morrem 481% mais jovens.
O relatório mostra que a taxa de homicídios começa crescer aos 16 anos, quando pula de 19,7 por 100 mil habitantes para 37,1. Aos 17 já está em 55,6 , chega a 62,9 por 100 mil aos 19 anos e se mantém acima dos 50 até os 24 anos.
São números que competem, por exemplo, com as taxas de mortalidade da Venezuela - 55 por 100 mil habitantes - país considerado o mais violento do mundo sem estar em guerra. "O Brasil, sem conflitos religiosos ou étnicos, de cor ou de raça, sem disputas territoriais ou de fronteiras, sem guerra civil ou enfrentamentos políticos levados ao plano das armas, consegue vitimar mais cidadãos via armas de fogo do que muitos dos conflitos contemporâneos", diz o estudo.
Toda essa violência é concentrada principalmente nos homens. A taxa de mortalidade entre mulheres é de 2,6 por 100 mil e se mantém em torno de três em 21 das 27 unidades da federação. A taxa nacional para mortes masculinas é de 42 por 100 mil - entre os jovens, 95% dos assassinatos são de meninos - e chega a 107 por 100 mil em Alagoas.
A violência atinge diretamente os homens e reduz a expectativa de vida dos brasileiros. A diferença chega a sete anos, segundo dados divulgados pelo IBGE (média das mulheres é de 78,6 anos e a dos homens, 71,3).
"A partir da década de 90 houve uma crescente privatização das atribuições do Estado, inclusive da segurança. Quem pode pagar, contrata os meios possíveis, e quem pode pagar é a população branca", explica Julio Jacobo Waiselfisz.
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