A mãe da turista italiana Gaia Barbara Molinari, que foi encontrada morta na Praia de Jericoacoara, no dia 25 de dezembro do ano passado, afirmou em depoimento à Polícia de Piacenza, na Itália, que teve um pressentimento negativo quando a filha comunicou que viajaria de graça por convite da carioca Mirian França. Valentina Carraro informou, durante depoimento obtido com exclusividade pelo Diário do Nordeste, que a viagem gratuita gerou suspeitas.
"Manifestei minha perplexidade para a Gaia, especialmente a respeito desta viagem ser gratuita, sem necessidade de reembolsos, achando eu estranho uma pessoa presentear este tipo de passeio de férias, que tem alto custo, para quem conhecia a pouquíssimo tempo", disse em depoimento a mãe da turista.
Outro detalhe relatado por Valentina à Polícia foi que a filha teria comentado sobre um comportamento "esquisito" por parte de Mirian França. "Gaia disse que Mirian tinha um comportamento esquisito, pois mesmo tendo-a convidado para viajar, quando na localidade de Jericoacoara, de fato, ela permanecia sozinha o tempo todo. A coisa que mais chateava Gaia era o fato da Miriam não falar com ela ou, de qualquer maneira, falar pouco, até porque, como já disse, Gaia era uma garota que amava conversar com todos, um vulcão capaz de envolver todo mundo", relatou a mulher durante o depoimento à Polícia italiana. A turista ainda comentou com a mãe, por meio do Skype (ferramenta de comunicação por voz e vídeo pela internet), que teve febre na Praia de Jericoacoara.
Valentina relatou ter tomado conhecimento pela mídia que Mirian havia deixado Jericoacoara um dia antes do crime. Mas, durante uma conversa com Gaia, no dia 24 de dezembro, a filha se queixava por estar sozinha, citando o fato de que Mirian se mantinha isolada sem comunicar-se com ela. "E pela lógica entende-se que Mirian ainda estava em Jericoacoara", diz a mulher em trecho do documento da Polícia de Piacenza.
A mãe da turista italiana disse ainda durante o depoimento ter contactado o Consulado italiano no Ceará pois suspeitou das queixas da filha de que Mirian mesmo pagando o passeio de férias, sempre ficasse sozinha. Em outro trecho do documento, Valentina Carrara revelou saber pouco sobre as finanças de Gaia. "Minha filha tinha uma conta corrente na França, mas não conheço seu número e nem em que banco esteja aberta. Não sei nem qual era seu método de pagamento preferido embora saiba que ela retirava pequenas quantias em dinheiro mediante cartão de débito, usando assim depois o dinheiro vivo. Gaia gastava muito pouco e, como afirmado, não era uma desprevenida".
Outra impressão marcante para a genitora foi saber que Gaia possuía marcas de cordas nos braços, o que para a italiana se pode deduzir que a morte da filha foi um ato premeditado. A mãe de Gaia falou com a Polícia no dia 28 de dezembro do ano passado, às 17h30min, no escritório da Equipe Móvel/3ª Seção, na Província de Piacenza. O documento foi encaminhado à capital cearense, onde foi traduzido pelo Consulado da Itália em Fortaleza. A reportagem apurou que a Polícia possuía conhecimento do depoimento de Valentina, mas só recebeu a íntegra do testemunho no fim de janeiro.
Caso
Gaia Barbara Molinari, 29, foi encontrada morta por turistas que passeavam pela Praia de Jericoacoara. Desde a descoberta do corpo, a Polícia já realizou exames periciais em, pelo menos, cinco suspeitos. Mas, segundo o perito geral da Perícia Forense do Ceará, Maximiano Chaves, nenhum dos exames de DNA apontou positivo para material colhido no corpo de Gaia.
A principal testemunha do caso, a farmacêutica Mirian França, passou a ser considerada suspeita pela Polícia e teve a prisão decretada no dia 29 de dezembro pelo Tribunal de Justiça. No dia 13, a decisão foi revogada e a carioca teve a liberdade concedida, porém ainda está em Fortaleza, onde aguarda o prazo definido pela Justiça para voltar ao Rio de Janeiro. O período se estende até hoje e o advogado da mãe de Mirian, Humberto Adami, informou que Valdicea França prestou depoimento na Delegacia de Proteção ao Turista e está confiante. Mãe e filha já teriam solicitado passagens aéreas para ir embora. A defensora responsável pelo caso, Gina Moura, foi procurada durante a tarde e a noite de ontem, mas a assessoria informou que as entrevistas só podem ser realizadas pela manhã.
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