domingo, 28 de dezembro de 2014

Polícia resolveu somente 23% dos homicídios até novembro

Menos de um a cada quatro casos de homicídio ocorridos no Ceará em 2014 foi considerado resolvido pela Polícia. O índice de resolutividade dos crimes de morte no Estado neste ano saltou de 18%, até julho, para 23%, até novembro, de acordo com dados apresentados pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS).
De 4.418 Inquéritos Policiais instaurados, 1.006 foram concluídos e relatados com autoria definida, com ou sem prisões. Outros nove, até o fechamento desta edição, encontravam-se em andamento, com prisões em flagrante, o que eleva o número para 1.015, ou 23% do total.
Em Fortaleza, foram instaurados 1.341 Inquéritos Policiais. Destes, 310 foram concluídos e encaminhados à Justiça. O percentual da Capital ficou em 23,1%, com destaque para a Área Integrada de Segurança (AIS) 3, que engloba bairros como a Aldeota, que obteve resolutividade de 49,7%, concluindo 93 dos seus 187 inquéritos. Já a Região Metropolitana de Fortaleza obteve resultado inferior à média do Estado. Lá, foram 20,4% dos crimes resolvidos. O destaque daquela área é a AIS 9, representada pela cidade de Eusébio. Foram 74 de 175 inquéritos concluídos, com 42,3% de casos resolvidos pela Polícia.
Eficiência
O Interior Sul aparece em segundo entre as quatro regiões territoriais que a SSPDS utiliza para dividir o Estado em termos de resolução dos crimes de mortes violentas. Foram 37,5% dos crimes resolvidos. De 459 Inquéritos Policiais instaurados, A Polícia concluiu 172. O destaque positivo daquela região é a AIS 18, composta por cidades como Tauá. Lá, 60% dos crimes são considerados solucionados. Também vale ressaltar os 52% de conclusão da AIS 16 (Iguatu) e os 38,7% de resolução da AIS 11 (Juazeiro).
Entretanto, o território com maio porcentagem de resolução de homicídios é o Interior Norte. Naquela área, 56,1% dos 451 Inquéritos Policiais estão concluídos, sendo 244 relatados. Somam-se, também, nove inquéritos em andamento com prisões em flagrante.
Na região Norte, a AIS 14 (Crateús) resolveu 89,1% dos crimes. Foram 49 dos 55 inquéritos relatados com autoria definida. A seguir, a AIS 17 (Itapipoca), que resolveu 98 de 143 inquéritos policiais instaurados, aparece com 68,5% dos crimes de morte solucionados.
O diretor da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), delegado Ricardo Romagnoli, comemora os números. Segundo ele, há um crescimento na resolução dos crimes. No primeiro semestre, o índice estava em 18%.
"Resolutividade é um processo em que a gente busca trabalhar de forma mais focada, com vistas a alcançar maiores resultados nas investigações de homicídio, o que implica dizer mais investigações concluídas. Nesse sentido, temos evoluído. Nossa resolução tem aumentado de forma crescente nos últimos meses", afirma o delegado.
Prisões
Romagnoli ressalta, ainda, a quantidade de prisões feitas como ponto positivo das ações desenvolvidas em todo o Estado.
"Um fruto de nosso trabalho é o número de prisões feitas este ano. Temos conseguido manter uma média de aproximadamente 20 a 25 prisões e cumprimentos de mandados de prisão por mês na DHPP. Essa é nossa média dos últimos cinco meses. É uma linha ascendente e constante de crescimento, tanto dos índices de conclusão quanto de prisões", afirma o diretor da Divisão de Homicídios.
Segundo o delegado, não há distinção, por exemplo, entre caso mais ou menos relevante. Para a Divisão, o importante é solucionar crimes, sejam eles cometidos neste ano ou em 2013.
"Tanto os crimes de grande repercussão, a exemplo do caso do médico que foi morto em um apartamento no bairro Meireles, como o que foi assassinado no calçadão da Avenida Beira-Mar, que conseguimos resolver em menos de 48h, como casos de homicídios praticados há três, quatro anos, de pessoas com menor poder aquisitivo, a gente vem resolvendo", afirma.
Romagnoli cita prisões de pessoas de alta periculosidade, como Valquíria de Araújo Alves, homicida que já foi a mais procurada do Estado, presa em setembro após denúncias anônimas e investigação policial.
Jovens carecem de oportunidades
Especialistas do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará (UFC) apontam a complexidade de razões que levam uma pessoa a praticar um homicídio são complexas. No entanto, alguns pontos são recorrentes: o fator social e a baixa escolaridade.
De acordo com o sociólogo e pesquisador do LAB, Antônio Sabino, o perfil dos autores de homicídio no Ceará é bastante parecido: "jovens que interromperam os estudos e que não têm acesso ao nível superior". O levantamento apontado pela instituição dá conta de que cerca de 60% dos suspeitos envolvidos em homicídios não concluíram o ensino fundamental.
Os próprios entrevistados, alvos das pesquisas, afirmam que não enxergam a universidade como algo possível ou viável. Neste caso, os especialistas entendem que o crime é a 'possibilidade mais próxima' que eles têm de estarem perto daquilo que anseiam, seja uma moto, um carro, ou um celular mais moderno, e o homicídio é o mais grave de todos os crimes.
As mortes também estão relacionadas ao consumo de drogas, potencializadoras de homicídios. Para os pesquisadores, o fato de os governantes investirem na estrutura da Polícia ou em outros mecanismos de Segurança Pública não isenta que os mesmos criem meios de manter, principalmente os jovens, em atividades regulares. Seja em escolas de tempo integral, cursos profissionalizantes ou incentivando acesso à bens culturais e lazer. "As políticas devem estar voltadas também para a prevenção social".
Adolescentes infratores
De acordo como Antônio Sabino, o adolescente está mais propenso a ser subtraído para o mundo do crime por se tratar de um indivíduo ainda em formação, e esta fase requer estímulos para se desenvolver. Para o especialista, no caso dos jovens infratores, a maioria de família com baixo nível de renda e de escolaridade, o Governo deve dobrar a atenção e evitar a ociosidade.
De acordo com o sociólogo, são recorrentes casos em que o adolescente vê um amigo que foi chamado para ser 'aviãozinho' e adquiriu bens. Este jovem passa a levar alimento para dentro de casa, comprar roupas, tênis, ter status no meio em que vive. Muitas vezes, na mesma família, há casos em que o pai, o filho e o neto seguem os mesmos caminhos da criminalidade.

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