sábado, 20 de dezembro de 2014

Oposição quer rigor em investigações

A oposição defendeu ontem o aprofundamento das investigações sobre o envolvimento de políticos nos desvios de corrupção da Petrobras e avalia que, agora, a crise fica dentro do Congresso Nacional.

Apesar de um tucano estar na lista dos 28 políticos que teriam sido mencionados pelo ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa, o PSDB afirma que as investigações precisam ocorrer "independentemente da filiação partidária" dos envolvidos. Em nota, o partido diz que a apresentação de um relatório paralelo pela oposição na CPI mista da Petrobras reforçou a defesa das investigações ao pedir o indiciamento de 59 pessoas e a abertura de inquérito policial contra outras 36. Líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP) disse que "ninguém pode passar panos quentes" nas investigações.

"Por enquanto, é o vazamento de uma informação. É preciso conhecer o teor da delação. Se for confirmado, é um caso gravíssimo", disse o tucano.

O líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Antonio Imbassahy (BA), afirmou ser preciso esperar os próximos passos do procurador-geral da Repúblico, Rodrigo Janot, para verificar a validade das acusações.

Para o líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE), a citação de políticos desgasta a imagem do Congresso e traz a crise para o novo Legislativo, que tomará posse em fevereiro.

Segundo o deputado, o novo Congresso começará sob pressão pela expectativa da confirmação de parlamentares envolvidos no escândalo. Ele disse ainda que isso reforça a necessidade de uma nova CPI para analisar o caso.

Ex-ministros

Segundo reportagem do jornal "O Estado de S. Paulo", o ex-ministro dos governos Lula e Dilma, Antonio Palocci está na relação de Paulo Roberto Costa, que citou o nome de 28 políticos.

O petista teria encomendado ao ex-diretor, segundo a reportagem, dinheiro para a campanha da presidente, da qual era coordenador. O pedido teria sido de R$ 2 milhões.

Costa também citou nome do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos e relatou pagamento de propina ao ex-presidente do PSDB, Sérgio Guerra, para que uma CPI que investigava a Petrobras fosse encerrada.

Repercussão

Com nomes também citados, os presidentes do Senado e da Câmara, Renan Calheiros (PMDB-AL) e Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), negaram ter envolvimento com os desvios de recursos da Petrobras.

O deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), candidato à presidência da Câmara, contestou a lista. O senador José Sarney (PMDB-AP) disse não acreditar no envolvimento de sua filha, Roseana Sarney (PMDB).

Já o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) revelou estar indignado por ter sido relacionado.

Ele entregou, ontem, uma petição à Procuradoria Geral da República (PGR) pedindo que o órgão acelere a apresentação da lista dos políticos que serão investigados de fato.

"Eu vim pedir à PGR que se acelere esse processo porque o desgaste político é grande a quem não tem nada a ver com esse escândalo com a Petrobras", afirmou.

Venina diz que sofreu ameaças após revelações

Brasília. A ex-gerente executiva da Diretoria de Abastecimento da Petrobras Venina Velosa da Fonseca prestou, ontem, depoimento ao Ministério Público Federal, em Curitiba, para apresentar denúncias de irregularidades na estatal. Na oitiva, que durou cerca de cinco horas, ela contou ter recebido ameaças após revelar desvios na companhia e reiterou que a atual diretoria da empresa sabia dos problemas em ao menos três setores, mas não tomou providências.

Venina entregou aos investigadores da força-tarefa que investiga os crimes da Operação Lava-Jato relatórios de auditorias, notas fiscais e comunicados internos da Petrobras, além do computador de seu uso. O material indicaria as impropriedades na construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, em contratos da área de Comunicação e em processos de compra de óleo combustível por subsidiárias no exterior.

No pacote levado a Curitiba, também estão as mensagens enviadas por ela à atual presidente da companhia, Graça Foster, e ao diretor de Abastecimento, José Carlos Cosenza, nas quais alertaria para as irregularidades.

"É um conjunto probatório que, no meu entender, mostra que houve omissão dolosa por parte da diretoria", afirmou o advogado Ubiratan Mattos, que acompanhou a ex-gerente no depoimento. "Com absoluta convicção, a diretoria sabia (das irregularidades). Tanto que ela foi 'exilada' para ficar longe", acrescentou ele. A análise dos documentos entregues será feita somente a partir janeiro.

Venina foi gerente executiva da Diretoria de Abastecimento da Petrobras de 2005 a 2009. No período, ela foi subordinada ao então diretor Paulo Roberto Costa, que confessou em regime de delação premiada, um esquema de pagamento de propina por empreiteiras, que abasteceria partidos da base aliada, em troca de contratos superfaturados de obras da estatal.

A ex-gerente diz ter relatado os problemas a integrantes da cúpula da estatal, por e-mail, a partir de 2009, incluindo a Graça Foster, então diretora de Gás e Energia, e Cosenza. Depois disso, foi transferida para a subsidiária da Petrobras em Cingapura. O caso foi revelado pelo jornal "Valor Econômico".

As irregularidades denunciadas envolvem o pagamento de R$ 58 milhões para serviços que não foram realizados na área de comunicação, além do aumento dos custos de Abreu e Lima, cujo orçamento saltou de R$ 4 bilhões para R$ 24 bilhões.

A Petrobras alega que os e-mails enviados por Venina a Graça Foster antes de 20 de novembro de 2014 não tratavam dessas irregularidades.


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