A Prefeitura de Sobral promove, de 19 de julho a 7 de outubro, a exposição “Um Século de Arte Brasileira na Coleção Fundação Edson Queiroz”, na Casa de Cultura do município. A mostra é composta de 60 obras, entre pinturas, desenhos, gravuras e esculturas, e dividida em núcleos temáticos.
“Esta exposição objetiva apresentar um recorte da arte brasileira a partir de 1917 até os dias atuais, tornando acessível a contemplação de uma das mais importantes coleções de arte do Brasil, pela primeira vez deslocada para uma cidade do interior do Ceará”, explica Max Perlingeiro, curador da mostra.
Max ressalta a forte vocação cultural de Sobral como aspecto diferenciado para abrigar essa importante exposição. Ele lembra que a cidade dispõe de dois importantes e representativos museus: o Dom José, com acervo de arte sacra dos mais relevantes do Brasil, e o Madi, uma doação dos artistas ligados ao movimento geométrico europeu e latino-americano. Além disso, o sítio urbano da cidade é tombado como patrimônio cultural pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
“É uma satisfação enorme da Prefeitura de Sobral trazer uma exposição com esse gabarito para nossa cidade. É uma oportunidade única! Gostaria de agradecer à Fundação Edson Queiroz, que foi muito solícita conosco, por toda a colaboração e empenho”, ressalta o prefeito Ivo Gomes.
O vice-reitor de extensão da Unifor, professor Randal Pompeu, destaca a relevância dessa exposição em Sobral, na medida em que se cumpre a missão da Unifor de democratizar o acesso às artes a cada vez mais pessoas, especialmente estudantes de escolas públicas e particulares, no sentido de aliar a arte e a cultura à educação. “Em razão da importância do acervo de artes visuais da Fundação Edson Queiroz, ficamos felizes em proporcionar sua apreciação pelos mais diversos públicos”, complementa.
Como atividades complementares, estão programadas palestras, encontros com artistas e projeção de filmes durante o período da exposição. Haverá também a apresentação da premiada peça “Tarsila”, encenada pelo Grupo Mirante de Teatro Unifor, com texto de Maria Adelaide Amaral e direção de Hertenha Glauce. A peça teatral apresenta importantes personagens da história brasileira, revelando as intimidades, os anseios e as aflições de Tarsila do Amaral, pintora, e expoente do modernismo brasileiro. O espetáculo, que ganhou em 2016 os prêmios de melhor espetáculo adulto e melhor atriz coadjuvante para Lena Iorio no Troféu Carlos Câmara, e melhor cenário no Prêmio Ceará Encena, leva o expectador a viajar através das memórias da pintora modernista e de seus afetos mais próximos, revelando os rostos e personalidades para além de quadros e poesias: ao lado da caipirinha de Capivari, Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Anita Malfatti.
Além disso, a organização da mostra teve a preocupação de estruturar eficiente serviço de atendimento e arte-educação especialmente para a rede de educação, possibilitando assim, melhor compreensão por parte de professores, alunos e do público em geral. Esse trabalho já foi implantado com sucesso no Espaço Cultural Unifor, por meio de parcerias com escolas públicas e privadas, garantindo, inclusive, acesso gratuito à cultura a jovens da periferia de Fortaleza e do interior do Ceará, a partir de convênios com as secretarias de Educação do município e do Estado.
Núcleos temáticos
A mostra que será apresentada em Sobral tem início em 1917, não coincidentemente ano que registrou dois momentos importantes para as artes. Há exatos cem anos, o pintor cearense Raimundo Cela obteve no Salão Nacional de Belas Artes o cobiçado Prêmio de Viagem à Europa, e foi em busca de aprimorar seus conhecimentos, o que possibilitou ao artista o reconhecimento como pioneiro no ensino oficial da gravura em metal no Brasil. Paralelamente, em São Paulo, a mostra da jovem pintora Anita Malfatti motivava a Monteiro Lobato o infeliz artigo “Paranoia ou Mistificação”, recentemente lembrada no Museu de Arte Moderna de São Paulo.
A exposição abrangerá ainda importantes movimentos culturais registrados no Brasil, tais como o modernismo de Lasar Segall e sua exposição em 1913, Anita Malfatti e a mostra de 1917 e a Semana de Arte Moderna 1922. O Salão Revolucionário de 1931, nome pelo qual ficou conhecida a 38ª Exposição Geral de Belas Artes, realizada na Escola Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro, também é contemplado. Tradicional reduto da arte acadêmica, o salão daquele ano foi excepcionalmente dominado pelos artistas modernistas, devido a orientação dada ao evento pelo arquiteto e urbanista Lúcio Costa, que havia assumido a direção da ENBA, em dezembro de 1930, e procurava promover a renovação da instituição.
Max lembra que esse salão foi responsável pelo lançamento e a consagração de toda uma geração de artistas modernistas: Tarsila do Amaral, Antônio Gomide, Ismael Nery, Candido Portinari, Di Cavalcanti, Guignard, Flávio de Carvalho, entre outros. Os ateliês livres e os núcleos operários também se fazem presente, pelas artes do Núcleo Bernardelli, no Rio de Janeiro, e do Grupo Santo Helena, em São Paulo. Fechando a exposição estão obras da arte abstrata, informal, geométrica e o surgimento da Bienal de São Paulo, e representantes da arte contemporânea, com artistas que emergiram da Escola de Artes Visuais do Parque Lage e trouxeram uma nova linguagem, atualmente, consagrados no Brasil e no exterior. E, claro, não poderia faltar o núcleo de artistas cearenses, com a presença de toda uma geração de artistas, entre eles, Raimundo Cela, Sérvulo Esmeraldo, Antonio Bandeira e Aldemir Martins.
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