A crise interna no PSDB está tendo novos desdobramentos com a decisão do senador Aécio Neves em abrir mão do comando nacional da sigla. Aécio enfrenta desgastes após o vazamento de um vídeo em que aparece com o empresário Joesley Batista pedindo dinheiro. O vídeo, com a voz de Aécio e Joesley, provocou a suspensão temporária do mandato do tucano e o seu afastamento da Presidência Nacional do PSDB.
Após uma decisão do STF, Aécio reassumiu a cadeira no Senado, mas não retomou o comando nacional do PSDB. Desde o início da crise, o partido tem como presidente interino o senador cearense Tasso Jereissati. Tasso deverá assumir a Presidência da Executiva Nacional, em definitivo, no mês de agosto quando Aécio oficializará a sua renúncia ao cargo. Aliados de Aécio anteciparam, nessa terça-feira, que ele se rendeu a pressões de líderes do partido e decidiu convocar uma reunião da Executiva Nacional da legenda para se afastar definitivamente do cargo e discutir a eleição de seu sucessor.
‘’Já está batido o martelo. Aécio vai se afastar definitivamente da presidência do PSDB em agosto. Como presidente de fato afastado, cabe a ele convocar uma reunião da Executiva Nacional, em agosto, para escolher o novo presidente. Quanto ao Tasso, não tenho certeza se será ele’’, disse ao Jornal O Globo um dirigente tucano ligado a Aécio.
De acordo com a reportagem, outros tucanos disseram que está surgindo um movimento de senadores e governadores que, diante do arrefecimento da possibilidade de desembarque do governo, preferem que Aécio “coloque o pé no freio” em relação à escolha do novo presidente do partido. Esses dirigentes avaliam que a convocação de eleições internas levaria, inevitavelmente, a um debate sobre o apoio ao governo, aprofundando o racha da legenda.
Segundo interlocutores de Aécio, ele aceitou se afastar, mas quer influenciar na escolha do seu sucessor. Eles negam, no entanto, que o senador esteja apoiando o nome do vice-presidente do Senado, Cássio Cunha Lima (PB), seu antigo aliado, porque ele é um dos que mais defendem a saída do governo Michel Temer.
Passada a rejeição do recurso contra o arquivamento do pedido de cassação de Aécio no Conselho de Ética, o senador mineiro foi aconselhado a “mergulhar”, cuidar de sua defesa e deixar o PSDB seguir em frente na tentativa de recuperar o estrago de imagem causado pela delação de Joesley Batista. Aécio caiu em desgraça após ser acusado de pedir recursos ao empresário, e a Polícia Federal filmar seu primo Frederico (Fred) Pacheco de Medeiros recebendo R$ 2 milhões repassados por Joesley. O senador alegou que se tratava de uma transação privada para pagar advogados.
A delação resultou no afastamento de Aécio do mandato por 46 dias por determinação do Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, e nas prisões da irmã, Andrea Neves, e de Fred Pacheco. O STF recusou o pedido de prisão de Aécio e seu mandato foi restabelecido em liminar do ministro Marco Aurélio Mello. Andrea e Fred cumprem prisão domiciliar.
Antes do recesso, diante da dificuldade de trocar o comando das executivas municipais e estaduais, além da nacional, o entendimento era que o Diretório Nacional poderia deliberar sobre o sucessor de Aécio, homologando Tasso Jereissati como o presidente de fato até maio do ano que vem, pelo menos. Antes do julgamento do pedido de cassação de Aécio, ele e seu grupo político pressionaram para adiar a decisão sobre seu afastamento da presidência do partido.
Um dos defensores do desembarque do PSDB do governo, Tasso vem se mostrando incomodado com o cargo de interino. Mas, desde o início, embora cobrasse uma definição de Aécio, sempre deixou claro que qualquer iniciativa nesse sentido deveria partir do presidente afastado: renúncia, convocação das instâncias partidárias ou mesmo a volta ao cargo.