sexta-feira, 9 de outubro de 2015

1.724 policiais militares do CE estão de licença por problemas psiquiátricos

1.724 policiais militares do Estado do Ceará estão de licença psiquiátrica. O número representa os meses de janeiro até 7 de outubro deste ano e foi divulgado durante o 1ª seminário de Saúde Mental de Profissionais de Segurança, ocorrido na tarde desta quinta-feira, 8, no Auditório Murilo Aguiar, na Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (AL-CE). 

Os profissionais da saúde mental criticaram a falta de especialistas trabalhando na corporação para cuidar desses profissionais e realizar o acompanhamento necessário. Segundo o presidente da Associação de Cabos e Soldados (ASMCE), existem quatro profissionais na área da saúde mental na PMCE  para atender os 17 mil homens que integram a corporação.

 Nenhuma das associações possui psicólogo para atender policiais ou bombeiros militares. Segundo o representante da Associação de Praças da Polícia Militar e Corpo de Bombeiros Militar do Ceará, Pedro Queiroz, os números são da Perícia Médica e divulgada no Boletim do Comando Geral da PMCE, obtidos pelas associações.

 Histórico

 Em 2010 eram 5.178 policiais militares de licença com suspensão da arma de fogo, o que caracteriza problemas psiquiátricos foram concedidas. Em 2011 esse número teve uma diminuição para 3.575.

 O representante da Aspramece explica que a diminuição em 2011 aconteceu devido a mudança nas escalas da Polícia, pois anteriormente os PMs foram submetidos a uma escala de trabalho de seis dias, seguida de uma folga, que não poderia ocorrer no fim de semana. 

 "O Governo divulgou que estava criando o Programa do Ronda do Quarteirão, que a escala de seis dias trabalhando e uma folga de terça a quinta, pois sábado, domingos e feriados teriam que trabalhar para o povo. O que causou destruição de casamentos, suicídios e alguns pedidos de licenciamento", relatou P. Queiroz. 

No final de 2011 a categoria começou um movimento paredista, e em em 2012, as licenças aumentaram para 7.457. P. Queiroz explica que o aumento foi devido a "caça as bruxas" feita aos policiais que integravam os movimentos grevistas. 

Em 2013 houve um decrescimento, para 5.571, pelo motivo do lançamento da gratificação por metas de combate ao crime, que teria obrigado os policiais a voltar para se beneficiarem financeiramente, pois quem não estivesse trabalhando, não receberia o valor.

 Em 2014, a licença diminui para 5.257. O número atual de 1.724 licenças médicas psiquiátricas, é o menor desde o ano de 2010. Apesar das questões motivacionais relatadas, a psicóloga Rebeca Moreira, relatou que a questão das promoções também teve influência na diminuição. Pois os policiais voltaram ao trabalho, mesmo doentes, na intenção de serem promovidos. 

Associações

 O Presidente da Associação de Cabos e Soldados, Elisiano Queiroz, relatou que as associações estão preocupadas com o número de policiais com problemas psicológicos e que resolveram se reunir para entender mais o problema. “durante a semana chegam policiais buscando tratamento e policiais que percebemos que precisam de tratamento, além de familiares relatando os problemas", comenta. 

 Segundo o cabo Elisiano, uma média de dois a três policiais ou familiares procuram a ASMCE por semana relatando a situação. Esses profissionais são encaminhados para tratamento no setor de psicossocial da PMCE. 

 Motivos

 Segundo o perito psiquiátrico da Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce), Heraldo Lobo, a maioria das patologias que chegam na Pefoce são relacionadas a transtorno de humor. Ele relata que é necessário um respeito por parte das instituição ao profissional que está com uma patologia mental, para que entendam que ele não é um individuo "fraco", mas uma pessoa que precisa de ajuda. 

 "É uma situação insalubre, em que ele sai de casa e não sabe se vai voltar com vida. E o que as instituições podem fazer para esse individuo que está exposto a essa problemática no sentido que ele não adoeça, ou adoeça menos. Ele vai dar segurança para os outros, mas antes ele precisa estar seguro. Principalmente dentro da sua instituição", relata

Conforme a psicóloga Rebeca Moreira, que foi voluntária no Batalhão de Choque durante 10 anos, dados do ano passado mostravam que o Instituto de Saúde dos Servidores do Estado do Ceará  (ISSEC), não contava com profissionais da área de saúde mental. Além disso, as associações também não possuem especialistas

 Casos específicos

 Segundo coordenador do centro biopsicossocial da PMCE, tenente Coronel Paulo Simões, há casos específicos, em que, por exemplo, um policial militar negro se encontra como portador do vírus HIV, dentro da corporação. Ele procura ajuda, pois ninguém quer trabalhar com ele, devido as condições.

 Para o oficial, o objetivo é acolher essas pessoas e para se trabalhar no centro é necessário "gostar de gente". Ele reconhece a falta de profissionais, mas relata que todos os dias os profissionais do centro realizam visitas e que existe um acompanhamento de pelo menos 120 pessoas.

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