A Justiça Federal determinou a indisponibilidade
dos bens do prefeito de Paramoti, Samuel Boyadjian, para assegurar o
ressarcimento de R$ 1,16 milhão aos cofres públicos. A decisão atende
pedido do Ministério Público Federal (MPF). O gestor é acusado de
praticar irregularidades na aplicação de verbas oriundas do Programa
Nacional de Apoio ao Transporte Escolar (PNATE) do município.
De acordo com ação de improbidade administrativa ajuizada pelo
procurador da República Alessander Sales, a Prefeitura de Paramoti
contratou empresa de transporte escolar no valor de R$ 1,16 milhão, para
a condução dos alunos. Entretanto, o serviço era realizado de forma
precária e incompatível com o preço pago. Além disso, era feito por
intermédio de veículos pertencentes aos moradores do próprio município.
O MPF constatou que o transporte de alunos era, também, realizado em
desrespeito à legislação de trânsito, com extintores de incêndio
vencidos, sem cintos de segurança e com carrocerias improvisadas. As
investigações ainda apontaram que a empresa vencedora da licitação não é
proprietária de nenhum dos veículos que operam o transporte escolar no
município.
Trecho da ação de improbidade, esclarece que o serviço de transporte
escolar é realizado por meio de subcontratações de terceiros, moradores
de Paramoti, que são responsáveis pela manutenção dos veículos e pelos
custos dos combustíveis. "A subcontratação irregular resultou em perda
patrimonial e fraude do procedimento licitatório", detalha a ação.
A decisão judicial, da 34ª Vara da Justiça Federal, busca assegurar o
integral ressarcimento do valor empregado de forma irregular na
contratação do serviço de transporte escolar.
O advogado da Prefeitura de Paramoti, Celso Monteiro, afirmou que o
prefeito Samuel Boyadjian agiu dentro da estrita legalidade e que vai
apresentar defesa no decorrer da instrução do processo, mostrando que o
serviço foi cumprido e que o contrato com a empresa foi rescindido em
2013, logo após relatório do Tribunal de Contas da União.
"A administração municipal é descentralizada e a contratação da empresa
foi feita dentro da legalidade, pela secretaria de Educação",
esclareceu Monteiro. "Além do mais, não foram liberados o valor total do
contrato, mas R$ 800 mil. O Ministério Público não alegou desvio de
dinheiro, valor acima de preços de mercado e nem apontou prejuízo. O
prefeito é inocente, vamos provar isso e ingressar com medida para o
desbloqueio dos seus bens".
Precariedade
A prestação de serviço de transporte escolar ainda é precária na
maioria dos municípios do Interior do Ceará. Apesar dos esforços do
Ministério Público Estadual e do Ministério Público Federal ainda há
centenas de carros tipo pau de arara realizando a condução diária de
alunos do ensino fundamental e médio no sertão cearense. Poucas são as
Prefeituras que eliminaram esse tipo de transporte escolar.
Na cidade de Icó, na região Centro-Sul do Estado, dois alunos caíram
pela porta de um ônibus de transporte escolar do programa "Caminho da
Escola", que faz a rota que atende à localidade de GH2, no Perímetro
Irrigado Icó - Lima Campos. Os acidentes ocorreram em dias diferentes,
com duas crianças. Felizmente, não houve ferimentos graves.
O secretário de Educação de Icó, Márcio Greyk Gonçalves Silvestre,
confirmou que o veículo apresenta defeito na porta. "Fui a Fortaleza e
pessoalmente tentei comprar a peça da porta que está com defeito, mas
não encontrei", contou. "Fizemos uma adaptação e avisamos aos alunos que
evitem viajar próximo ao motorista e à porta, mas os estudantes não
obedeceram".
Márcio Greyk Silvestre reafirmou que o motorista avisa aos alunos para
ficarem nas cadeiras e evitarem aproximação da porta. "Infelizmente, os
alunos teimam", frisou. "Não temos outro ônibus para a substituição". De
acordo com a Secretaria de Educação de Icó, cerca de 2.300 alunos são
transportados diariamente em 145 veículos. "Mais de 90% são carros
fechados e apenas os veículos que fazem a rota da região da serra são
camionetas e caminhões", esclareceu Márcio Greyk Silvestre. "Naquela
área não dá certo o uso de ônibus".
No último dia 22, pela manhã, um morador da cidade de Acopiara, na
região Centro-Sul do Ceará, flagrou 12 alunos em cima de uma carroceria
de um Fiat Fiorino, na Vila Aroeira, na rodovia CE-060, saída para a
cidade de Mombaça.
A secretária de Educação de Acopiara, Luíza Aurélia Costa, informou que
o município não tem veículo Fiorino contratado para o transporte de
alunos. "Creio que deva ser uma carona", disse. "Vamos analisar o caso,
mas não há esse tipo de carro fazendo o transporte escolar regular". Em
Acopiara, cerca de seis mil alunos utilizam o serviço que é feito por
100 veículos, mas a maioria dos carros contratados ainda é tipo pau de
arara. "Há um esforço para ampliar a frota de carros fechados, mas não
há empresa com oferta desse tipo de veículo", completou.
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