quarta-feira, 2 de julho de 2014

Jegues esperam por adoção no RN; Câmara discute abate para alimentar presos


Sem valor comercial, jumentos que são apreendidos nas estradas do Rio Grande do Norte esperam adoção em uma fazenda na região de Apodi (337 km de Natal). O local abriga cerca de 900 animais, que são mantidos pelo poder judiciário no local e custam R$ 1,50 por dia --R$ 40.500,00 por mês.

Os animais estão abrigados na APA (Associação de Proteção aos Animais) de Apodi, que foi fundada em outubro de 2013, após um levantamento do MPE (Ministério Público Estadual), que verificou que a PRF (Polícia Rodoviária Federal) estava com problemas para destinar os animais apreendidos nas estradas por causa da alta demanda de apreensões.

Somente neste ano, foram 666 jumentos apreendidos pela PRF nas estradas da região Oeste do Rio Grande do Norte.

Um levantamento do MPE apontou que entre os anos de 2010 e 2013 ocorreram 100 acidentes na região oeste do RN envolvendo jumentos soltos nas rodovias. Segundo Brito, 60% tiveram vítimas fatais.

Nesta segunda-feira (30), o pedreiro Janivan Deoclécio da Silva, 60, morreu ao se envolver em uma colisão com um jumento que estava solto na BR-405, próximo ao município Taboeiro Grande (378 km de Natal).

"Ninguém apareceu para resgatar nenhum desses 900 animais que estão na APA", disse o promotor de Justiça, Silvio Brito, que defende que o abate de jumentos para o consumo da carne pela população em geral.

Nesta terça-feira (1º), a Câmara dos Deputados faz uma audiência pública para discutir a utilização da carne de jegue nas refeições de alunos da rede pública e detentos do RN.

Tratamento
Na APA, os jumentos são acompanhados por veterinários e alimentados com ração à base de milho e os que estão doentes são tratados com medicamentos e suplementos alimentares.

"Os jumentos estão à espera de adoção, de pessoas que se interessarem em criá-los ou ainda empresários que se quiserem investir no ramo de restaurantes para usarem a carne abatida", disse o promotor.

O médico veterinário Genecleiton Almeida, mestre em segurança alimentar e saúde pública pela Universidade de Lisboa, em Portugal, também defende que a carne de jumento faça parte do cardápio dos brasileiros.

"Não vejo problema técnico no consumo da carne de jumento, desde que esse animal esteja dentro das condições sanitárias e dentro de uma linha de abate específica. O problema é a questão cultural, que as pessoas ainda têm resistência em consumir carne de jumento", disse Almeida.

Abaixo-assinado
O abate de jumentos para consumo humano é questionado por entidades de proteção aos animais.

A ONG DNA (Defesa da Natureza e dos Animais) destacou o risco de extinção caso os jumentos sejam colocados para o abate. Segundo a ONG, os jumentos precisam de 24 meses para procriar e a gestação dura 12 meses.

A Sociedade Vegetariana Brasileira também questiona o abate de jumento. A entidade conseguiu reunir 50.000 assinaturas de pessoas contra o uso da carne de jumento no cardápio dos brasileiros.

"É inadmissível que se adicione ainda mais um tipo de carne ao cardápio do brasileiro, condenando animais de mais uma espécie a sofrer e morrer para atender a interesses dos seres humanos", informou o documento entregue no dia 16 de maio ao procurador-geral de Justiça do RN, Rinaldo Reis.


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