sexta-feira, 16 de março de 2018

A morte de Marielle Franco e ameaça à democracia


Um crime político. É o que defendem correligionários de Marielle Franco — vereadora, de 38 anos, brutalmente executada na noite de quarta-feira, 14, no Rio de Janeiro. Três tiros de arma de fogo na cabeça tiraram de cena uma militante dos direitos humanos, do movimento negro e do feminismo. Na ação, o motorista dela, Anderson Gomes, também foi morto.



Nascida e criada na periferia carioca, a parlamentar denunciava, nos últimos dias, supostas ações criminosas de policiais militares. “Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe?”, publicou a vereadora um dia antes de morrer.


Para o professor de Direito Constitucional do CERS Cursos Online, Edem Nápoli, é um crime que fragiliza a democracia pela forma como aconteceu. “Democracia é o quê? É um valor sustentado em três pilares: igualdade, liberdade e dignidade humana. Será que a gente tem esses valores no Brasil? Se tivéssemos liberdade, Marielle não estava morta”, disse o pesquisador.

Durante todo o dia de ontem, diversas manifestações políticas condenavam a execução da parlamentar. Em muitas publicações, o questionamento sobre o futuro da democracia no Brasil. “Independente do partido e de sua ideologia, perdemos uma mulher, perdemos uma mulher que fazia política”, publicou em uma rede social a deputada Yeda Crusius (PSDB-RS).

O presidente do Psol no Ceará, Ailton Lopes, afirmou que, se a execução foi “uma tentativa de calar o movimento”, “não conseguirão”. “A vida e a luta de Marielle não serão em vão, não vamos recuar. Não vamos recuar porque a luta pela vida exige isso, que cada um não recue”, defendeu. O presidente Michel Temer (MDB) disse ontem que o assassinato “é um verdadeiro atentado ao estado de direito e um atentado à democracia. Trata-se do assassinato de uma representante popular que fazia manifestações com vistas a preservar a paz e a tranquilidade na cidade do Rio de Janeiro”. Pré-candidato à presidente, Guilherme Boulos (Psol) publicou nas redes sociais não haver “dúvidas de que foi uma execução, um crime político”. “Marielle fazia da denúncia a execuções como essa o centro da sua valorosa militância”, continuou.

O exercício político, ainda segundo o professor Edem Nápoli, está cada vez mais comprometido no Brasil. O pré-candidato à presidente, Jair Bolsonaro (PSL), também estaria, conforme lembra Nápoli, exposto a situações semelhantes, por defender bandeiras polêmicas para a próxima eleição.

A socióloga Monalisa Soares, da Universidade Estadual do Ceará (Uece), argumenta que o crime com características de execução e motivações políticas “é mais um elemento que vai ser acionado para debater sobre as fragilidades da democracia brasileira”, principalmente no campo da esquerda.

A possibilidade real de diversas lideranças populares serem afetadas pelo momento de insegurança no País é também o que teriam levado o prefeito e o governador do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB) e Luiz Fernando Pezão (MDB) , respectivamente, a se posicionarem de forma ágil para contribuir na apuração do caso.

A pesquisadora lembra que o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luiz Fux, abriu a sessão ontem condenando o episódio de extrema violência contra a vereadora carioca. “Foi meio que uma unanimidade a repercussão que esse caso teve no universo político”, relembra Soares ao falar sobre a “união” nesse momento.



DENÚNCIA

A vereadora Eliana Gomes (PCdoB) denunciou ontem na Câmara ameaças à sua vida por posições políticas. Ela será recebida pelo secretário da Segurança André Costa.

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