Até chegar a esse momento de libertação alguns fatos importantes ocorreram na província Ceará e tiveram extrema ligação com o processo abolicionista. O principal deles foi o Movimento dos Jangadeiros, que teve início em janeiro de 1881, fechando o Porto de Fortaleza para o embarque de escravos. Outro fato ocorreu na Vila do Acarape – atual município de Redenção, em 1º de janeiro de 1883, quando 116 escravos daquela localidade foram emancipados. A cidade é conhecida como Rosal da Liberdade.
O Movimento dos Jangadeiros foi encabeçado por Francisco José do Nascimento, conhecido também por Dragão do Mar ou Chico da Matilde, mulato natural de Canoa Quebrada e que havia se tornado prático da Capitania dos Portos. Nesta luta, ele teve ao seu lado a liderança de Antônio José Napoleão, ex-escravo que comprou sua alforria, da mulher, dos filhos e dos amigos, levando-os para morar nas dunas de Fortaleza, o que os fez se tornarem jangadeiros.
Para o professor Hilário Ferreira, cientista social e mestre em História Social, além dos abolicionistas historicamente conhecidos, como Dragão do Mar e José do Patrocínio, todo esse processo de pioneirismo cearense teve fundamental participação dos atores diretamente ligados à causa, como Antônio Napoleão e a esposa Preta Simôa, e Negra Esperança, que morava entre dois traficantes e se arriscava ao dar abrigo aos escravos que fugiam das fazendas.
“É por causa desses negros, em todo um processo de luta e de resistência para não se separar dos seus (familiares) e serem vendidos para o Sudeste, que há um processo de luta que se encerra no processo de abolição no Ceará”, comenta Hilário Ferreira.
Influências
Além da reflexão sobre os erros a não serem repetidos, esse período deixou muitos costumes e interferências no dia-a-dia da nossa população. Podemos identificar isso em áreas como a música, vocabulário, culinária, entre outros.
“Você tinha durante todo o século XIX, do ponto de vista cultural, o samba de umbigada, o que no Maranhão ainda hoje se chama samba de crioulo. Tinha encontro de sambas na Avenida Imperador, no bairro Damas, em Sobral. Outra manifestação cultural desses povos era a festa do Congo, a burrinha, o bumba meu boi. Com o tempo, a festa do Congo vai se reelaborando e nasce o maracatu. Sem falar no vocabulário, palavras como moleque, caponga, munheca, bunda, umbigo”, ressaltou o professor Hilário Ferreira.
Um pedaço da história
Primeira cidade a abolir a escravidão, Redenção guarda um pouco dessa história em forma de museu. Instalado na antiga fazenda da família Muniz Rodrigues, o Museu Senzala Negro Liberto foi inaugurado em 2003. No local, visitantes podem conhecer espaços ocupados no século XIX por senhores e escravos.
O museu preserva ainda a casa grande da fazenda, senzala, documentos de compra de terra e livros de contabilidade escritos na época com caneta de pena pavão, moedas antigas e até objetos que eram utilizados para torturar os escravos. O piso da casa grande tem buracos que eram feitos para que os senhores ficassem sempre vendo o comportamento dos escravos na senzala, que acomodava de 50 a 60 escravos.
Convivência
A cidade de Redenção continua sendo ocupada por brasileiros e africanos nos dias atuais. Desta vez, não mais com relações de exploração por um dos lados, mas de integração em busca de educação. Criada em 2010 e instalada em 2011, a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) funciona como um elo de ligação entre os povos do Brasil e das nações que integram a Comunidade d os Países de Língua Portuguesa (CPLP), especialmente os países africanos, com a finalidade de promover o desenvolvimento regional e o intercâmbio cultural, científico e educacional.
Pós-escravidão
A comemoração da Data Magna cearense neste 25 de março é um momento importante para reflexão sobre os erros do passado e se o pós-escravidão de fato libertou os negros. Indicadores sociais e econômicos mostram que ainda há uma distância entre pessoas de cor no Brasil, colocando aqueles de pele mais escura predominantemente na parte baixa da pirâmide social do nosso país, sem falar na discriminação racial ainda presente em nossa sociedade.
Para fomentar o respeito e a igualdade entre as raças, o Governo do Ceará criou em 2010 a Coordenadoria Especial de Políticas Públicas para a Promoção da Igualdade Racial, que teve à frente, entre 2015 e 2018, a professora da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Maria Zelma de Araújo Madeira. Para ela, “esses problemas são colocados na sociedade e demandam atenção por parte do poder público, quando incluídos na agenda governamental, por meio das politicas transversais de promoção da igualdade racial”.
Podemos destacar algumas ações da Coordenadoria, que hoje faz parte da Secretaria de Proteção Social, Justiça, Mulheres e Direitos Humanos, como a criação e implementação do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial e a reelaboração e a implementação do Plano de Políticas Públicas para a Promoção da Igualdade Racial. O Ceará também firmou convênio com a Uniã ;o para o Projeto Municipalizando a Promoção da Igualdade Racial no Ceará e aderiu ao Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial.
COM GOVERNO DO ESTADO
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