terça-feira, 25 de outubro de 2016

Policiais podem entrar em greve novamente


Os policiais civis do Ceará podem entrar em greve novamente. A informação é do presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Carreira do Estado do Ceará (Sinpol), Francisco Lucas. Desde o último dia 19 de outubro, a categoria está acampada na Avenida Barão de Studart, em frente ao Palácio da Abolição, sede do Governo do Estado do Ceará, no bairro Meireles, em Fortaleza.
Os policiais reivindicam a desativação das carceragens nas delegacias, melhorias nas condições de trabalho e aumento salarial. “Aqui, o pessoal está vindo na folga. Quem trabalha de dia, está vindo à noite e, quem trabalha de noite, está vindo de dia. Cerca de 300 policiais passam pelo acampamento, por dia. A rotatividade é grande e o movimento está forte. Estamos à disposição para discutir com o governador. Amanhã (Hoje), vamos reiterar o ofício protocolado ao Governo”, falou a vice-presidente do Sinpol, Ana Paula Cavalcante.
Pressão
O objetivo da mobilização, segundo o presidente do sindicato, é pressionar o Governo do Estado para recebê-los e iniciar uma negociação. “Há, sim, a possibilidade de uma nova greve. Estamos reavaliando e vai depender do diálogo com o Governo, que foi interrompido depois do nosso último movimento”. Na época, Francisco Lucas disse que houve audiência de conciliação, porém, as propostas não avançaram.
“A Dra. Socorro França levaria uma proposta, mas isso não aconteceu e não avançamos nem na proposta do reconhecimento do nível superior nem na desativação da carceragem. Também não avançamos no pedido de concurso público e convocação imediata. São cera de 2.600 policiais civis e precisamos de o dobro, no mínimo, para começar a fazer um trabalho razoável. Hoje, temos o pior salário do Nordeste, o pior efetivo do País. Esse movimento é um grito de socorro”, falou. Francisco Lucas.
Segundo o presidente do Sinpol, a greve pode ser deflagrada, principalmente, por causa da continuidade dos presos nas delegacias. “Esta questão dos presos é a que mais está nos afligindo, pois está trazendo riscos para os policiais, para a sociedade e a gente não vê sinalização de mudança”, observou Lucas, acrescentando que uma assembleia da categoria está marcada para acontecer na quinta-feira (27), a partir das 18h30.
Transferência
Em entrevista ao Jornal O Estado, Ana Paula Cavalcante lembra que, há 10 dias, o Governo havia prometido esvaziar as delegacias. “Até o momento, nada aconteceu. Houve apenas uma transferência de 250 presos numa semana e outros 100 na semana passada. Mas, o que aconteceu está longe de resolver o problema”, explica Ana Paula, salientando que, com a transferência total dos presos para o sistema carcerário, a Polícia Civil ganha um efetivo de 600 inspetores. “Isso representa um salto fantástico em termos de investigação e no combate à violência e ao crime organizado que se estabeleceu no nosso estado”, falou.
Ana Paula Cavalcante destaca que as celas das delegacias funcionam, hoje, com mais de 600% de sua capacidade. “A Sejus não cria vagas e reclamam que o sistema penitenciário está com 100% a mais da capacidade. Isso é verdade, mas as delegacias estão com mais de 600%. Uma cela de delegacia, onde cabem cinco presos, temos 30. Se há um problema no sistema penitenciário, também há nas delegacias”, destacou, ainda, que a sociedade corre riscos. “Os presídios ficam afastados da zona urbana. Já as delegacias ficam próximo às casas. Temos em torno de 50 pequenos presídios fincados na zona urbana e Região Metropolitana, onde o cidadão que está apenas passando ao lado não sabe o risco que corre. Até mesmo chegamos ao absurdo do cidadão ser assaltado dentro da delegacia, como o que aconteceu dentro do 3º Distrito Policial”.
Contradição
Em nota, o Governo do Estado reiterou o fato de estranhar o posicionamento de parte da categoria dos policiais civis, acampados nas cercanias do Palácio da Abolição. “Todas as reivindicações dos policiais levadas à constante mesa de negociação aberta entre o Governo e o sindicato da categoria foram atendidas; como a Lei das Promoções através do Plano de Cargos e Carreiras, com a descompressão da carreira, o que gera aumento médio de 25% na remuneração; e a atualização dos valores pagos aos integrantes da corporação por serviços de reforço extraordinário. Entre outros avanços, o Governo ainda reforçou em 26% o atual efetivo com a realização de concurso com 703 aprovados no Curso de Formação e 255 já nomeados”.
O Governo também afirmou que “a greve iniciada pela categoria no mês de setembro foi considerada ilegal pela Justiça e o serviço de transferências de presos das delegacias para o sistema penitenciário foi iniciado e já reduziu em 50% o número de detidos das unidades distritais. O Governo reforça que segue com diálogo permanente com a categoria”.
Apesar das afirmações do Governo, a vice-presidente do Sinpol afirma que o compromisso não foi cumprido. “O Policial civil de primeira classe, que representa hoje quase a metade do nosso efetivo, não teve um real de aumento. Os policiais estão trabalhando com coletes e munições vencidas, as viaturas estão sem rádio de comunicação. Além disso, as delegacias não têm papel e as impressoras são matriciais, o que causa problema na saúde dos escrivães. Não temos condições mínimas de trabalho. Fora isso, a demanda só aumenta a cada dia dentro das delegacias. Chegam cerca de 50 presos flagranteados nas delegacias por dia”, finalizou.

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