A fragilidade ideológica de partidos tradicionais no Ceará, aliada aos
interesses de comunidades evangélicas em garantir uma maior
representação política, abriu espaço para que agremiações voltadas para
esse público se fortalecessem e assegurassem, cada vez mais, um número
maior de pastores em parlamentos espalhados pelo Brasil. Já a quantidade
de padres na disputa de cargos eletivos perdeu força, segundo
cientistas políticos, por falta de incentivo dos fiéis e da própria
Igreja Católica.
No Ceará, o cenário político acompanhou a tendência nacional,
permitindo que legendas como o PSC, por exemplo, passassem de um partido
sem representação na Câmara Municipal de Fortaleza à sigla com uma das
maiores bancadas na Casa. Já o presidente nacional do PRB, Marcos
Pereira, em recente visita ao Ceará, incentivou pastores a entrarem na
vida política.
Na ocasião, Marcos Pereira fez uma palestra para cerca de 80 pastores
para destacar a importância da participação dos cristãos na política
partidária e na disputa pelos cargos eletivos. “Ao longo dos anos, a
política foi demonizada pelos evangélicos. Enquanto isso, leis eram
aprovadas para cercear nosso direito de pregar a Palavra de Deus”,
alegou o presidente nacional.
Na avaliação do cientista político David Fleischer, da Universidade de
Brasília (UnB), o crescimento da representação evangélica se deve, em
parte, à falta de bandeiras claras nos programas defendidos pela maioria
dos partidos. “Os partidos tradicionais têm uma confusão geral em termo
de ideologia. Então, um partido que apresente um programa
organizadamente acaba atraindo votos de grupos que mais se identificam
com aqueles valores”, ressalta o professor.
David Fleischer acrescenta que a maior exposição de deputados federais
voltados para o público evangélico também foi responsável por, em nível
estadual e municipal, atrair mais pastores para a vida política. “A
bancada evangélica tem mostrado, no Congresso, relativo sucesso ao
conseguir algumas vitórias. Isso impressiona bastante os fiéis, que
ficam animados em ver que os valores da Igreja Evangélica são levados
para uma esfera nacional”, explicou.
Campanha
O presidente estadual do PSC, Wellington Saboia, confia nos votos da
comunidade evangélica para garantir crescimento do partido nas eleições
deste ano. Afastado da Câmara Municipal de Fortaleza para se dedicar à
organização da campanha, o vereador acredita que a candidatura do pastor
Everaldo Pereira à Presidência da República incentivará cearenses
evangélicos a votar nos candidatos do PSC a deputado estadual e federal.
Um dos nomes nacionais da sigla é o pastor Marco Feliciano, que já
presidiu a comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal.
O PRB no Ceará também conseguiu crescer nos últimos pleitos, elegendo
17 prefeitos no Estado e mais 118 vereadores nas eleições municipais de
2012, apesar de muitos terem deixado a agremiação para se filiar ao
PROS, quando o governador Cid Gomes foi para a legenda.
O presidente municipal do PRB, vereador Gelson Ferraz, afirma que,
apesar do crescimento, a comunidade evangélica ligada ao partido não
teve tanta influência. “Dentro do partido, de evangélico, só tem eu e o
pastor Ronaldo Martins. A maioria é católica. Quem fez o partido crescer
foi todo mundo. Ninguém perguntou se é católico ou evangélico”, alegou.
O partido não esconde, porém, a vontade em mudar esse retrato descrito
por Gelson Ferraz. No evento em que o PRB organizou para incentivar
pastores a entrar na vida política, o presidente estadual da agremiação,
deputado estadual Ronaldo Martins, destacou as conquistas que podem ser
alcançadas para o público evangélico quando há uma maior representação.
Filiações
“Sou o único deputado evangélico entre os 46 na Assembleia Legislativa
do Ceará e conseguimos aprovar a entrada dos pastores em hospitais e
presídios, o que antes era proibido”, frisou Ronaldo Martins. De acordo
com o partido, a legenda conseguiu algumas filiações de pastores logo
após o evento realizado na sede do PRB no Ceará.
Já o cientista político Thiago Sampaio, da Universidade Federal do
Pampa, no Rio Grande do Sul, lembrou que o crescimento da representação
evangélica não está ligada somente ao partidos que são ideologicamente
compatíveis com os valores defendidos por igrejas evangélicas. “A
bancada evangélica está distribuída por várias outras legendas,
revelando até uma falta de clareza na coerência ideológica entre os
parlamentares e os partidos que representam”, apontou.
Enquanto a Igreja Evangélica conseguiu construir uma maior
representação, o catolicismo perdeu força na política. Para o cientista
político Thiago Sampaio, os fiéis da Igreja Católica não enxergam a
necessidade de ter representantes identificados com a religião que
praticam. “Há essa diferença no pensamento difundido entre os fiéis das
duas religiões”, explicou.
O cientista político David Fleischer lembrou que, além de não terem
tanta aceitação entre os fiéis, essa diferença se deve principalmente ao
fato da própria Igreja Católica ter passado a reprimir padres que
tivessem o desejo de disputar algum cargo eletivo, enquanto a Igreja
Evangélica incentiva esse hábito.
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