terça-feira, 24 de junho de 2014

Como a rede virtual reiventou o submundo da política

Antiga conhecida da disputa eleitoral, a desinformação ganhou nova dimensão entre “curtidas” e “compartilhamentos”. Centrado no fácil anonimato e no difícil controle da veracidade de informações, salto protagonizado pelas redes sociais de 2010 para cá reinventou também o “submundo” da política nas eleições. Construída a partir da difusão de boatos, informações caluniosas e exploração da vida pessoal de candidatos, a velha face da política encontra abrigo e combustível ímpares no novo front virtual.

Exemplos que comprovam a tese não faltam. Nos últimos meses, o pré-candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves (MG), vem se dizendo alvo de ataques do “submundo”, que estaria tentando colocar nele a pecha de usuário de drogas. Em resposta, o tucano entrou na Justiça tentando remover páginas de internet que o citam. Não menos alvo da “guerrilha” virtual, a presidente Dilma Rousseff (PT) também passou, desde o início deste ano, a “desmentir” informações falsas em sua página oficial do Facebook.

“Em 2010 a internet já estava consolidada, mas hoje ela já está como um dos principais meios de promoção de candidaturas e de informações no geral”, avalia o procurador regional eleitoral do Ceará, Rômulo Conrado. Para ele, expansão do submundo nas redes é influenciado sobretudo pela dificuldade em rastrear autores de conteúdo.

“É muito mais difícil você adotar medidas efetivas para coibir e punir. Além disso, fica difícil controlar, porque mesmo que alguém publique um conteúdo, ele pode ser referenciado e divulgado por milhares de outras pessoas mesmo que aquele autor delete a publicação original”, diz.

Apesar de admitir as dificuldades, o procurador reforça que a Justiça trabalha para responsabilizar infratores virtuais. Ele ressalta possíveis remoções de páginas e ações criminais, nos casos onde seja identificado envolvimento de candidatos nas articulações.

Velhas práticas
O “jogo sujo” eleitoral não é exclusividade da contemporaneidade, nem tampouco das mídias digitais. Ao longo da história política local, são fartos os exemplos onde a boataria e ataques pessoais percorreram o “submundo”, impactando nas decisões eleitorais do Estado. 

Em 2012, por exemplo, a disputa entre Elmano de Freitas (PT) e Roberto Cláudio (Pros) pela Prefeitura foi marcada por denúncias de práticas do gênero. Na época, o petista acusou Roberto de espalhar panfletos apócrifos acusando-o de querer “legalizar o aborto”. Já o atual prefeito rebateu citando boatos de que ele acabaria com o Bolsa Família caso eleito.

SAIBA MAIS

Em 2004, a ex-prefeita Luizianne Lins (PT) foi alvo do submundo da política. No dia do segundo turno, foram distribuídos milhares de panfletos com uma série de acusações pessoais contra ela. Apesar disso, no entanto, ela venceu a disputa.

Outro caso inusitado ocorreu durante a eleição de Juazeiro do Norte em 2004. Na época, foram distribuídos panfletos que acusavam o candidato Raimundo Macedo, o “Raimundão” (PMDB), de chamar o padre Cícero - ícone entre os juazeirenses - de “forasteiro”.%u018D

Especialistas destacam ainda o potencial da rede em, ao mesmo tempo em que abre espaço para profissionais do submundo, ser utilizada por amadores. “Tem coisas que não são feitas no tom de maldade. A pessoa faz no sabor das paixões, sem ter nem noção da dimensão daquilo”, diz Uribam Xavier.

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