Após o corte de 100% das bolsas da Funcap, houve redução de 17% a 25% na oferta total de bolsas em cada universidade — incluindo as disponibilizadas por outras instituições de apoio científico. No caso da Funcap, as bolsas de iniciação científica eram ofertadas em edital, anualmente. Com duração de 12 meses, o estudantes recebiam R$ 400 por mês.
No caso da Universidade Federal do Ceará (UFC), a suspensão do tradicional repasse da Funcap veio no momento em que a instituição recebe avaliações positivas a níveis nacional e internacional. A UFC recebeu nota máxima na avaliação do Conceito Institucional, feita pelo Ministério da Educação (MEC). Três programas de mestrado e doutorado da UFC atingiram padrão máximo internacional em avaliação de cursos no Brasil.
Para a professora Verônica Teixeira, representante dos coordenadores de pós-graduação no Conselho Universitário de Ensino e Pesquisa (Cepe), a situação é desmotivadora. “A gente passa por esse corte e, de forma irônica, a pós-graduação na UFC vive um momento incrível. A UFC foi avaliada com indicadores incríveis que fazem frente às instituições de regiões historicamente muito beneficiadas. Ao invés de receber um retorno por todo o investimento humano que a gente faz, recebemos um corte”, argumenta.
Verônica relaciona que a redução de investimento na graduação tem “impacto direto” nos programas de mestrado e doutorado. “A iniciação científica é a semente da pós-graduação. Muitos dos estudantes do mestrado e doutorado foram iniciados na graduação. Estamos há pelo menos três meses sem essas bolsas, com uma demanda enorme de projetos de cunho social e científico”, comenta, alertando para a possível mudança de um momento positivo para um “cenário de retrocesso” na academia.
“Tenho receio que esses alunos, ao invés de investir na continuidade da graduação, por falta de incentivo, saiam do Estado ou do País em busca de oportunidades que a gente não está oferecendo”, alerta. Além da UFC, não foram mais beneficiados com o edital de iniciação científica a Universidade Estadual do Ceará (Uece), o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), a Universidade de Fortaleza (Unifor), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), a Universidade Regional do Cariri (Urca), a Universidade Federal do Cariri (UFCA), a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) e a Embrapa Sobral.
Sem recursos
De acordo com o presidente da Funcap, Tarcísio Pequeno, a situação “não é normal para a relação da fundação com as universidades”. “A ideia é que a gente possa lançar um novo edital ainda este ano ou no início do ano que vem. Para, em 2018, retomarmos nosso programa de bolsas de iniciação científica. Essa é a ideia, a perspectiva. Não tenho algo concreto, uma garantia absoluta. Temos entendimento com instâncias do Governo do Estado. Não é da política do Estado, foi uma dificuldade ocasional”, reconhece.
Ele explica que, em agosto do ano passado, foram contratadas 750 bolsas de iniciação científica por um período de um ano, que terminou em agosto último. “O ano se cumpriu. Mas nós não tivemos recursos para lançar novo edital que permitisse a continuidade do programa, por causa da escassez de fluxo de caixa, de recursos do Estado”, destaca. Conforme Tarcísio, a Funcap possui o programa praticamente desde que foi fundada. Ele frisa que as bolsas de iniciação científica são muito importantes porque visam capturar, o mais cedo possível, o potencial de alunos para a pesquisa. (Ana Rute Ramires)
Números
R$ 300 mil é o valor mensal aproximado que o Estado investia nas bolsas
750 bolsas de iniciação científica deixaram de ser ofertadas
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