O PT não vai controlar o Governo de Camilo Santana. Sua influência política, se tiver, será deveras tímida. O cerne da nova gestão sairá da base política fincada pelo governador Cid Gomes (PROS), embora ele fique fora do Brasil, durante todo o ano de 2015.
Os petistas crescerão muito pouco em representação no primeiro escalão do futuro Governo, e nada indica virem a ser uma fonte para as políticas públicas da gestão a se instalar. Camilo fará uma administração nova, como tem enfatizado, mas não tão diferente desta inaugurada em 2007.
A alguns petistas, inclusive coadjuvantes da campanha recém-finda, convencidos estão da realidade que se lhes apresenta. Camilo é pessoa de diálogo, dizem alguns, ouve a todos, fala pouco, mas tem suas razões de não ser o petista que gostariam que ele fosse. Camilo poderia ter sido vice-governador do Estado, no lugar de Domingos Filho, em 2010, e não o foi por falta de apoio do seu partido. Poderia ter sido o candidato a prefeito de Fortaleza e não o foi pela intransigência de parte do PT, cuja aversão ao seu nome era explícita e inclusive pública.
Ele, como o atual prefeito de Sobral, Clodoveu Arruda, também amigo de Cid, não teriam deixado o PT, como fizeram outros, inclusive o vereador Salmito Filho e o próprio pai de Camilo, Eudoro Santana, atendendo a ponderações do governador, sob a alegação de precisar de amigos naquela sigla.
Operadores
E Camilo saiu candidato à sucessão estadual por escolha pessoal de Cid, talvez até forçado pelas exigências do deputado José Guimarães, de ser candidato ao Senado, quando todas as pesquisas internas do Governo davam-no como empecilho ao sucesso eleitoral de qualquer chapa majoritária em disputa.
O desconforto de Camilo no PT, como o de Nelson Martins e alguns outros mais próximos do atual Governo se tornou mais acentuado ainda nos últimos meses. Um dos operadores do candidato Eunício Oliveira (PMDB) em Fortaleza, principal adversário do governador eleito, era petista próximo ao diretório municipal do partido.
E como se não bastasse, foi hostil a oposição feita ao vencedor do pleito por Luizianne Lins, Eudes Xavier, Antônio Carlos e outros filiados ao PT. Ao governador, a partir de 1º de janeiro próximo, se já não o foi dito o será, que apesar desse grupo do PT, do distanciamento da presidente Dilma e do ex-presidente Lula da sua batalha para ser eleito, assim mesmo ele chegou lá.
Cid Gomes, também por estar fora do Brasil, no primeiro ano da nova gestão, não imporá forte inibição a Camilo, como seria natural se aqui permanecesse. Ciro Gomes buscará novos caminhos. Diz que não, mas gostaria de ser ministro. De qualquer forma não estará tão próximo do Governo como esteve ao longo dos dois mandatos do irmão. Mas outras pessoas do grupo responsável pelo sucesso eleitoral aqui permanecerão para ajudar, cobrar e inibir ações políticas contrárias ao projeto do qual o próprio Camilo faz parte desde o seu nascedouro em janeiro de 2007, início do atual Governo.
O deputado José Albuquerque, presidente da Assembleia; Roberto Cláudio, prefeito de Fortaleza; deputado Ivo Gomes, Mauro Filho e Danilo Serpa vão estar sempre por perto. Nenhum deles quer o PT com mais espaços no Governo, além daquele hoje ocupado. O fosso separador de alguns petistas e o pessoal do PROS, o partido do atual Governo, antes de Camilo ser candidato só aumentou no curso da campanha. Essa situação estimula os governistas a serem mais restritivos em relação a esses filiados ao PT participarem da futura administração.
Elogios e acusações
A foto de capa do Diário do Nordeste, de 4 de outubro de 2010, horas após conhecido o resultado oficial da votação do dia anterior, mostra como os nossos políticos têm um discurso fácil de elogios aos aliados do momento.
Ali, como mostra o fac-símile que ilustra esta página, estão os três maiores inimigos da política local. Cid Gomes, ao centro, governador eleito, tendo como companheiros de comemoração os senadores Eunício Oliveira e José Pimentel, também eleitos no mesmo pleito.
Com Pimentel, o rompimento foi primeiro, nem bem completara um ano das trocas de elogios nos palanques e na propaganda eleitoral. Hoje, Pimentel e Cid evitam se encontrar e não sendo possível o desvio o cumprimento deles é muito frio. Pimentel não esteve à frente da campanha de Eunício contra o seu correligionário Camilo Santana, mas torcia por sua derrota, admitem alguns petistas, só para que o insucesso eleitoral fosse debitado ao governador.
Com Eunício, o rompimento demorou um pouco mais. Foi nos primeiros meses deste ano, pouco antes do prazo limite da homologação dos nomes dos candidatos ao Governo, pelas respectivas convenções. A troca recente de insultos dava a entender que nunca os dois haviam exagerado nos elogios um ao outro, talvez, na época, sonhando viver uma aliança eterna, desconhecendo a realidade da política que mostra serem os aliados de hoje os adversários de amanhã.
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