Os três anos consecutivos de estiagem no Nordeste não foram suficientes para enfraquecer o agronegócio cearense. Culturas que independem mais fortemente da precipitação chuvosa, como a carcinicultura e a produção de leite, estão em pleno crescimento da produção, mantendo a posição de destaque do Ceará no cenário nacional.
"Quando o assunto é agronegócio não podemos lembrar só da fruticultura irrigada que, de fato, vem sendo impactada com a seca. Entramos no quarto ano marcado por um período ruim de chuvas. Entretanto, continuamos sendo referência no cultivo de camarões - um dos poucos segmentos que não sofrem com a estiagem, já que depende basicamente das águas do mar e de poços profundos. O Ceará detém 50% da produção do país. Esse ano nossa meta é atingir 40 mil toneladas", antecipa Reginaldo Lobo, diretor de Agronegócio da Adece.
Para ele, a mudança de foco do mercado externo para o interno também foi fundamental para garantir a expansão do setor. Além da carcinicultura, Lobo cita a produção de leite, a cajucultura e a floricultura, como exemplos menos afetados pela estiagem no Ceará.
Acima do 'entrave natural'
Em relação à cadeia do leite, o diretor da Adece, afirma que "nunca o Ceará aprendeu a lidar tanto com a produtividade como agora". Segundo ele, os produtores entenderam que a estiagem é um elemento externo à produção e investiram em estratégias para superar esse entrave natural. "Nos últimos três anos os produtores de leite incorporaram novas tecnologias de produção e de gestão ao processo produtivo, conseguindo aumentar a produtividade e a competitividade de toda a cadeia", explica.
Luz no fim do túnel
No caso de setores mais dependentes das chuvas, com a fruticultura, Reginaldo Lobo afirma que já enxerga uma luz no fim do túnel. "Vem aí a transposição do São Francisco, que em 2015, começa a trazer água para o Ceará. É uma nova fonte de recursos hídricos, que ajudará abastecer o Estado. A transposição irá recarregar o principal pulmão do Ceará, que é o Castanhão. Além disso, o governo está tomando diferentes frentes para minimizar os efeitos da seca, com o Cinturão das Águas", reforça.
Ainda em relação ao cenário para 2015, o diretor da Adece também aposta na mudança climática. "Qualquer alteração no meio ambiente impacta na agricultura. Mas não podemos fazer projeções para o próximo ano porque, segundo técnicos da Funceme, ainda não sabemos se o El Ninho vai chegar mais fortemente em 2015. Historicamente, porém, pela duração do ciclo da seca, a tendência é que tenhamos um inverno com chuvas no ano que vem", projeta.
Reserva hídrica preocupa
Dados da Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh), levantados em 22 de outubro último, demonstram que a agricultura irrigada do Ceará enfrenta uma crise sem precedentes com a escassez de água. Os 149 açudes existentes no Estado, que possuem capacidade total de armazenagem de 18,8 bilhões de m³, possuem, segundo o levantamento, apenas 4,6 bilhões de m³ de água armazenados.
A região mais crítica, das oito regiões pesquisadas pela Cogerh, fica nos Sertões de Crateús, que concentra 10 açudes e só está com 1,30% da capacidade total. A segunda mais preocupante é a região do Curu, que armazena apenas 3,60% da capacidade total em seus 13 açudes. Na sequência, está o Baixo Jaguaribe, que só possui um açude e está com 4,22% da capacidade total. A região menos prejudicada, que possui a maior proporção de água armazenada é o Alto Jaguaribe, cujos 23 açudes existentes estão com 45,09% de sua capacidade hídrica
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