O carcereiro da Casa da Morte de Petrópolis, um dos mais bárbaros centros de tortura do regime militar brasileiro (1964-1985), o "Camarão" foi identificado no último fim de semana, em Tauá, como sendo o soldado reformado do Exército Antônio Waneir Pinheiro, 71 anos.
Ao ser identificado como o carcereiro "Camarão", Antônio foi levado à força à Polícia Federal em Fortaleza, onde prestou depoimento e reconheceu ter atuado como o "vigia da casa", mas disse desconhecer o que passava no interior do imóvel.
A existência de Camarão foi revelada por Inês Etienne Romeu, militante da Vanguarda Popular Revolucionária e única presa política a deixar a casa com vida. Em 1979, ela prestou depoimento sobre o tempo que passou presa no local, entre maior e setembro de 1971, período no qual sofreu torturas psicológicas e físicas, e, segundo depoimento, foi “estuprada duas vezes por ‘Camarão’, obrigada a limpar a cozinha completamente nua, ouvindo gracejos e obscenidades, os mais grosseiros”.
Após mais de quatro décadas escondido sob a alcunha de "Camarão", o carcereiro foi identificado através de uma investigação patrocinada pelo "Justiça de Transição", grupo de trabalho do Ministério Federal (MPF) responsável por investigar os crimes praticados nos porões da ditadura.
A Casa da Morte
A Casa da Morte foi emprestada ao Centro de Informações do Exército (CIE) pelo então proprietário, o alemão Mario Lodders, para funcionar como um cárcere clandestino destinado a presos políticos especiais (geralmente, comandantes ou chefes de grupos de fogo de organizações da esquerda armada).
No local, estima-se que 20 pessoas tenham sido executadas, mas não há números oficiais sobre isso. Por “Camarão”, Inês descobriu que uma dessas vítimas seria Carlos Alberto Soares de Freitas, o “Breno”, comandante da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares) e da VPR.
Para deixar a casa com vida, Inês fez um acordo para atuar como uma infiltrada dentro do movimento anti-ditadura, porém, além de não cumprir o prometido, ela conseguiu memorizar os nomes, detalhes e até o telefone do imóvel, dados revelados em seu depoimento, em 1979, quando julgou-se livre dos riscos.
Em 1981, através do número de telefone memorizado por Inês, a Casa da Morte foi descoberta. O tenente-coronel da reserva Paulo Malhães, o agente “Pablo” do CIE, responsável pela implantação da casa, prefere chamá-la de “centro de conveniência”, criada com o objetivo de arregimentar infiltrados e de “virar o preso”.
Malhães, antes de ser assassinado, ainda admitiu que o CIE matava e desaparecida com os corpos de presos políticos, arrancando os dedos e a arcada dentária dos corpos para que não fossem identificados.
"Camarão"
Inês descreveu o carcereiro como baixo, claro e cearense. "“Sua família reside em Fortaleza. Seu nome real é Wantuir ou Wantuil. É do Exército e fez parte da segurança pessoal do presidente João Goulart”, narrou ela. Segundo Malhães, “Camarão” foi transferido da Brigada Paraquedista para o CIE em 1969, quando o centro fez um recrutamento de agentes nessa tropa de elite do Exército.
Como vigia da casa, “Camarão” era o militar que mais tempo permanecia no centro clandestino. Os oficiais do CIE, cujo escritório ficava no Palácio Duque de Caxias, sede do Exército no Rio, só subiam a serra quando tinham em mãos um preso considerado de alta prioridade.
Ao fim da ditadura, em 1985, "Camarão" conseguiu um emprego como segurança em uma empresa de ônibus em Nilópolis (baixada Fluminense) com a ajuda de Malhães. Ele só voltou a aparecer em 2004, quando deu quatro tiros (dois no tórax, um no punho e outro na coxa) no músico Lúcio Francisco do Nascimento, do grupo Molejo. Ainda ficou um mês preso, mas conseguiu absolvição do Tribunal do Júri da cidade.
Ao saber que estava sendo procurados por jornalistas, pela Comissão Estadual da Verdade e pelo MPF, "Camarão" abandonou a casa em que morava em Araruana e só foi localizado pela Polícia Federal em Tauá. Depois de depor, ele foi liberado.
Ao ser identificado como o carcereiro "Camarão", Antônio foi levado à força à Polícia Federal em Fortaleza, onde prestou depoimento e reconheceu ter atuado como o "vigia da casa", mas disse desconhecer o que passava no interior do imóvel.
A existência de Camarão foi revelada por Inês Etienne Romeu, militante da Vanguarda Popular Revolucionária e única presa política a deixar a casa com vida. Em 1979, ela prestou depoimento sobre o tempo que passou presa no local, entre maior e setembro de 1971, período no qual sofreu torturas psicológicas e físicas, e, segundo depoimento, foi “estuprada duas vezes por ‘Camarão’, obrigada a limpar a cozinha completamente nua, ouvindo gracejos e obscenidades, os mais grosseiros”.
Após mais de quatro décadas escondido sob a alcunha de "Camarão", o carcereiro foi identificado através de uma investigação patrocinada pelo "Justiça de Transição", grupo de trabalho do Ministério Federal (MPF) responsável por investigar os crimes praticados nos porões da ditadura.
A Casa da Morte
A Casa da Morte foi emprestada ao Centro de Informações do Exército (CIE) pelo então proprietário, o alemão Mario Lodders, para funcionar como um cárcere clandestino destinado a presos políticos especiais (geralmente, comandantes ou chefes de grupos de fogo de organizações da esquerda armada).
No local, estima-se que 20 pessoas tenham sido executadas, mas não há números oficiais sobre isso. Por “Camarão”, Inês descobriu que uma dessas vítimas seria Carlos Alberto Soares de Freitas, o “Breno”, comandante da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares) e da VPR.
Para deixar a casa com vida, Inês fez um acordo para atuar como uma infiltrada dentro do movimento anti-ditadura, porém, além de não cumprir o prometido, ela conseguiu memorizar os nomes, detalhes e até o telefone do imóvel, dados revelados em seu depoimento, em 1979, quando julgou-se livre dos riscos.
Em 1981, através do número de telefone memorizado por Inês, a Casa da Morte foi descoberta. O tenente-coronel da reserva Paulo Malhães, o agente “Pablo” do CIE, responsável pela implantação da casa, prefere chamá-la de “centro de conveniência”, criada com o objetivo de arregimentar infiltrados e de “virar o preso”.
Malhães, antes de ser assassinado, ainda admitiu que o CIE matava e desaparecida com os corpos de presos políticos, arrancando os dedos e a arcada dentária dos corpos para que não fossem identificados.
"Camarão"
Inês descreveu o carcereiro como baixo, claro e cearense. "“Sua família reside em Fortaleza. Seu nome real é Wantuir ou Wantuil. É do Exército e fez parte da segurança pessoal do presidente João Goulart”, narrou ela. Segundo Malhães, “Camarão” foi transferido da Brigada Paraquedista para o CIE em 1969, quando o centro fez um recrutamento de agentes nessa tropa de elite do Exército.
Como vigia da casa, “Camarão” era o militar que mais tempo permanecia no centro clandestino. Os oficiais do CIE, cujo escritório ficava no Palácio Duque de Caxias, sede do Exército no Rio, só subiam a serra quando tinham em mãos um preso considerado de alta prioridade.
Ao fim da ditadura, em 1985, "Camarão" conseguiu um emprego como segurança em uma empresa de ônibus em Nilópolis (baixada Fluminense) com a ajuda de Malhães. Ele só voltou a aparecer em 2004, quando deu quatro tiros (dois no tórax, um no punho e outro na coxa) no músico Lúcio Francisco do Nascimento, do grupo Molejo. Ainda ficou um mês preso, mas conseguiu absolvição do Tribunal do Júri da cidade.
Ao saber que estava sendo procurados por jornalistas, pela Comissão Estadual da Verdade e pelo MPF, "Camarão" abandonou a casa em que morava em Araruana e só foi localizado pela Polícia Federal em Tauá. Depois de depor, ele foi liberado.
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