O primeiro mês do ano termina amanhã e as chuvas na pré-estação (dezembro e janeiro) ficaram bem abaixo da média histórica para o período. A escassez de água e o baixo índice pluviométrico vêm preocupando os produtores rurais no sertão cearense. Até mesmo na região Sul do Ceará (Cariri), onde as precipitações chegam mais cedo, não há plantio de sequeiro (aquele que depende exclusivamente da chuva) iniciado.
Segundo a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), em dezembro de 2014 choveu, em média, apenas 6,2 mm, menos 78,9% da média histórica, que é 29mm. Em janeiro, até ontem, foram registrados 32mm, isto é, 67,6% inferior à média do período que é de 98,7mm. Nesses últimos dois meses, houve, portanto, desvio negativo nos índices pluviômetros.
Os dados registrados confirmam, até agora, os prognósticos anunciados em novembro pela Funceme para o trimestre - dezembro, janeiro e fevereiro. Havia 42% de probabilidade de as chuvas ficarem abaixo da média histórica. Para o período de fevereiro, março e abril o órgão prevê um índice mais acentuado, ou seja, há 64% de chances das precipitações permanecerem inferiores à média histórica.
"Infelizmente, as condições de temperatura do Oceano Atlântico não são favoráveis", afirmou o meteorologista da Funceme, Leandro Valente. A Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), principal sistema de nuvens causador de chuvas no sertão cearense permanece afastada, um pouco acima da linha do Equador. Sem previsão de chuva para os próximos dois dias, não deverá haver mudança significativa na pluviometria média deste mês de janeiro.
O meteorologista Leandro Valente observou que, mesmo que o índice pluviométrico fique abaixo da média, conforme as previsões, ocorrerão chuvas intercaladas com períodos de veranicos (quando se verifica cinco ou mais dias sem registro de precipitações). Haverá também eventos extremos, isto é, pluviometria elevada, acima de 100mm e localizada. "A irregularidade das chuvas é típica de ano com estiagem", disse.
No campo, o clima é de preocupação. Em Várzea Alegre, a Prefeitura, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Agrário do Município, lançou um programa de preparo de terra para o plantio de sequeiro e obteve a adesão de 600 produtores rurais. A falta de chuva fez com que a maioria ainda não preparasse o solo. "Até hoje, menos de cinco por cento prepararam o terreno", disse João Alves, um dos coordenadores do programa de incentivo à agricultura familiar. "Nesse ano só caiu uma neblina, menos de 15 mm e não deu para molhar a terra".
No município de Iguatu, a situação é semelhante. A secretaria de Agricultura firmou parceria com os agricultores e lançou um programa de preparo de terra, entretanto, até ontem, não houve condições de trabalho. "Ninguém se interessou e a terra está seca, impossibilitando o uso das máquinas para o corte do terreno", disse a secretária de Agricultura, Edileuza Pereira. "Esperamos que em fevereiro as chuvas caiam com intensidade".
O agricultor Pedro Alves, morador da localidade de Retiro, zona rural de Iguatu, está pessimista: "Já decidi que não vou plantar nesse ano porque o tempo está muito atrapalhado". Na localidade de Gadelha, o produtor rural, José Campos, não acredita nas previsões de chuvas abaixo da média: "O inverno vem tarde, será no fim de março".
O gerente local do escritório da Ematerce, Erivaldo Barbosa, disse que ainda não há previsão de entrega das sementes selecionadas do Programa Hora de Plantar para os agricultores cadastrados. "Na próxima quarta-feira a gente deve começar a distribuir para os municípios da região", explicou. A entrega para os produtores rurais depende de autorização da Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA).
No ano passado, a distribuição começou no início de fevereiro na região Centro-Sul. A região do Cariri cearense, onde as chuvas começam mais cedo, também não iniciou a entrega das sementes aos agricultores. A terra permanece seca.
O diretor do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Iguatu, Sebastião Alves, defende que as sementes devem chegar logo nas mãos dos agricultores. "Eles sabem o momento certo de plantar e devemos aproveitar as primeiras chuvas porque pode faltar mais pra frente", frisou. Barbosa acredita que essa será a estratégia da Ematerce. "Antes, o governo esperava que a terra estivesse úmida para o plantio, mas agora com tantas incertezas, acredito que distribuirá logo".
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