Ministro da Fazenda de 1988 a 1990 (governo Sarney), Maílson da Nóbrega teve de conduzir a política financeira nacional em tempos de inflação ao topo de 416%, alto déficit público e distância do crédito internacional. Hoje, 23 anos depois, defende que a inflação pode definir o presidência do Brasil.
“Os pobres odeiam a inflação. Deixar a inflação sair do controle é perder voto, porque corrói a renda”, analisa o economista. Maílson esteve ontem em Fortaleza, a convite do ex-prefeito de Maracanaú, Roberto Pessoa, para palestra comemorativa dos 50 anos da Emape, companhia de avicultura fundada e administrada por Pessoa. O encontro ocorreu na Universidade de Fortaleza (Unifor).
Apesar de tecer duras críticas à política econômica da presidente Dilma, avalia com otimismo o futuro do crescimento do País. Nas estimativas do consulto, o Brasil pode quadruplicar a economia em 24 anos, caso logre um (pouco provável) crescimento de 6% ao ano. Esse prazo salta para 75 anos, com o crescimento mais próximo da realidade, de 3%.
Confira outros temas abordados ao O POVO por Maílson da Nóbrega, 71, o paraibano de Cruz do Espírito Santo.
Política fiscal deficiente
“A fragilização do tripé econômico, e foi lamentável, começa a ser consertado. A presidente Dilma já devolveu ao Banco Central a capacidade de gerir a política monetária, sem interferências. Deixaram de intervir no câmbio, que é flutuante hoje - as intervenções são somente para controlar a volatilidade. Tem apenas como remanescente para consertar a política fiscal, que não vai ter conserto neste governo. A minha impressão é que o Ministério da Fazenda não acredita nessas questões de austeridade fiscal, superávit primário.”
Espionagem
“A decisão de cancelar (a viagem aos Estados Unidos) foi tomada em um comitê político, sem a presença do Itamarati. Tem uma repercussão negativa externamente. Internamente, tem uma repercussão positiva. Grande parcela da população brasileira, que é muito nacionalista, uma parte é antiamericano. A presidente vai ganhar pontos de popularidade com essa sua decisão. Lá fora, a percepção é de que foi perda de oportunidade.”
Inflação versus voto
“Não há nenhum risco de descontrole inflacionário. Por outro lado, a inflação hoje pode constituir uma ameaça a reeleição de qualquer presidente da república, porque nós temos uma sociedade intolerante a inflação. Os pobres odeiam a inflação. Deixar a inflação sair do controle é perder voto, porque corrói a renda.”
Cargo governamental
“Já cumpri minha missão no governo. Estou muito feliz com o que estou fazendo, como colunista (da Folha de São Paulo), como consultor, como palestrantes, como membro de conselho. No governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2003), recebi dois convites. O primeiro, para ser presidente do Banco Central, quando o Gustavo Loyola deixou a instituição. O segundo - intermediado pelo ministro da Fazenda, Pedro Malan -, foi para ser presidente da Petrobras. Também não aceitei por razões exatamente iguais a de hoje: eu estava muito feliz com que estava fazendo. Dificilmente, o governo do PT me convidaria. Razão maior ainda para não aceitar. Eu divirjo da forma que eles conduzem o País.
Projeções do ex-ministro para 2013
PIB (%): 2,1
Inflação (IPCA): 6
Desemprego (%): 5,6
Juros (Selic): 9,75
Taxa de câmbio (R$/US$): 2,35
Balança comercial (US$) bi: 2,5
Erros da economia:
Ênfase continuada na expansão do consumo;
Ação política para a queda da taxa de juros;
Meta de inflação no teto. Ação sobre o índice;
Má condução na taxa de câmbio;
Contabilidade criativa na gestão fiscal;
Protecionismo.
Efeitos negativos
Fragilização do tripé macroeconômico: meta de inflação, superávit primário e câmbio flutuante;
Inflação pressionada;
Deteriorização das contas externas;
Perda de credibilidade da política econômica;
Risco de rebaixamento do rating do Brasil;
Queda do potencial de crescimento.